terça-feira, 17 de novembro de 2009

Quando a tradição atrapalha

Por Denise Carvalho 12.11.2009 00h01
Publicado por kassu - 16/11/2009 às 23h13


Sem presidente há nove meses e com resultados inferiores aos das concorrentes, a Pernambucanas se tornou um exemplo de como um líder apegado ao passado pode comprometer a expansão de um negócio

Foto:Genésio

Loja da Pernambucanas, em São Paulo: modelo dos anos 90


Enquanto ocupou a superintendência da rede Pernambucanas, de agosto de 2002 a fevereiro deste ano, o executivo Marcelo Silva intercalou momentos de agonia e glória. Ao assumir o cargo, a empresa passava pelo pior momento de sua centenária história -- encolhera de 1 000 para 238 lojas e dava prejuízo. A partir de 2003, a reversão dos maus resultados rendeu a Silva a confiança da presidente do conselho de administração, Anita Louise Regina Harley. Em 2008, a Pernambucanas faturou 4,2 bilhões de reais -- mais que o triplo da receita obtida no ano em que Silva assumiu. O lucro foi de 53 milhões de reais, ante o prejuízo de 9 milhões em 2001. Mas no início de 2009 a harmonia virou desacordo. Segundo executivos próximos à empresa, Silva defendia uma intensa fase de expansão. Anita preferia manter um ritmo cauteloso. O conflito sobre a estratégia provocou sua demissão. (Dois meses depois, Silva assumiria a superintendência do Magazine Luiza. ) Até agora, a Pernambucanas está sem superintendente -- o diretor comercial, Dilson Santos, ocupa o posto interinamente. Em outubro, a Pernambucanas perdeu outro executivo -- Abel Ornelas, diretor de operações, levado por Silva para o Magazine Luiza. "Enquanto Anita não ungir o sucessor, haverá uma sensação de insegurança", diz um executivo próximo à empresa. Procurados por EXAME, os diretores da Pernambucanas e Marcelo Silva não deram entrevista.

O vácuo no poder aproximou mais Anita, conhecida pelo temperamento intempestivo, do dia a dia na empresa. Em julho, por exemplo, ela determinou o fechamento da operação de comércio eletrônico criada havia três anos. Sem dar explicação aos clientes, a rede tirou o site do ar e fechou 16 lojas virtuais (pontos de venda em que os produtos são apresentados em terminais de computador) no interior de São Paulo. "A decisão vai na contramão do que fazem os demais varejistas", diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria especializada em varejo GS&MD. "Para quem quer crescer, ficar fora do comércio eletrônico é a decisão menos acertada."

Crescer, definitivamente, não parece ser a prioridade de Anita, uma senhora reclusa de cerca de 60 anos (sua idade é mantida em segredo). Embora tenha a palavra final em todas as decisões, poucas vezes ela pode ser vista pelos funcionários. Uma delas é durante a missa anual pelo aniversário de morte de sua mãe, Erenita Helena Groschke Cavalcanti Lundgren, ex-presidente da empresa, morta em 1990. (Nessas ocasiões, cerca de 800 funcionários são convocados a comparecer e é recomendável que eles assinem a lista de presença na porta da igreja.) Hoje, nenhum outro acionista tem força para contestar suas decisões. Dona de 30% do capital da empresa, Anita ainda responde por 20% de ações de um grupo de sobrinhos. Seu primo Frederico Lundgren, visto como seu maior rival, tem cerca de 30% e nem sempre consegue apoio dos demais membros do conselho. Prevalece, portanto, o conservadorismo de Anita. Segundo executivos ligados à Pernambucanas, ela teme cometer erros que quase quebraram a rede no passado. "A Pernambucanas parou no tempo e está perdendo a corrida contra os competidores", diz Markus Stricker, sócio da AT Kearney, especialista em varejo. "Enquanto a rede abriu cerca de 50 lojas nos últimos três anos, o Magazine Luiza inaugurou 260."

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