domingo, 26 de outubro de 2008

Pressa para quê?

Haroldo Castro (texto e fotos)


Percorra menos distâncias, passe por menos lugares, mas saboreie melhor a sua jornada



A PÉ NO DESERTO

Viajantes caminham durante um trekking de camelo perto do Deserto de Gobi, na Mongólia. Os andarilhos percorrem 20 quilômetros diários. Caminhar é uma maneira saudável de conhecer uma região, sem estresse

Nunca o brasileiro viajou tanto para o estrangeiro. Mas, para aqueles que já percorreram suficiente milhagem, o turismo de massa, afobado, já não satisfaz. Faz mais sentido a viagem com objetivos culturais, rica em conteúdo – e sem pressa. Mesmo que o dólar tenha subido depois da crise financeira, a prosperidade dos últimos anos permitiu que um número crescente de brasileiros visitasse outros países. Em 2007, turistas brasileiros gastaram US$ 8,2 bilhões no exterior, 42,5% mais que em 2006. Em geral, os marinheiros de primeira viagem passeiam pelos principais museus europeus, gastam nos shoppings americanos e fazem fila para visitar algum cartão-postal. A jornada, normalmente em grupo, abarca o máximo de lugares, no mínimo de tempo. O turista neófito, que visita dez cidades (ou países!) em duas ou três semanas, regressa à casa mais estafado do que saiu. Afinal, ele passou a maior parte de suas férias em aviões e aeroportos repletos, ônibus cansativos e saguões de hotéis à espera da próxima etapa.

Nos últimos anos, viajantes veteranos da Europa e dos Estados Unidos vão deixando de lado esse tipo de turismo apressado. A pressão no trabalho, o estresse urbano e a velocidade hipnotizante do cotidiano exigem um descanso verdadeiro. É o momento para uma trégua anual, não para uma via-crúcis internacional. A viagem entra na receita para recarregar baterias: deve trazer conhecimento, experiência de vida e prazer, jamais uma tensão adicional. Foi a necessidade de saborear mais a viagem que fez surgir o turismo sem pressa (em inglês, slow travel). Essa diminuição da velocidade acompanhou um movimento semelhante na culinária – o slow-food –, que contesta a trivialidade da comida rápida. Não passar demasiadas horas na logística da locomoção possibilita usar esse tempo para fazer algo mais gostoso. Conclusão: percorrer menos distâncias e passar por menos lugares significa viajar com mais qualidade.

O turismo sem pressa caminha de mãos dadas com seus primos, o turismo sustentável e o ecológico. A preocupação com o rastro ambiental é crucial. Quando disponíveis, os transportes de baixo impacto, como trem e barco, são preferidos aos que provocam maior emissão de gases de carbono, como o avião (18 vezes mais que o ferroviário) e o automóvel movido a gasolina (31 vezes). Uma vez no destino, as pernas devem substituir qualquer motor a combustão – o que os seres humanos sempre fizeram até dois séculos atrás. Realizar circuitos a cavalo também é uma forma de conhecer vagarosamente uma região, mas caminhar e andar de bicicleta traz uma vantagem adicional: são mais saudáveis. “Chego de viagem em perfeita forma física”, diz o escritor francês Clément Bosson. “Uma caminhada no Himalaia pode valer mais que um ano de ginástica em uma academia urbana”.

Por G1

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