sábado, 10 de janeiro de 2009

Estudo questiona emissões de CO2 na Amazônia

Fonte: Terra

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) concluíram estudo que contesta o volume de emissões de gases de efeito estufa provocadas pelo desmatamento da Amazônia. De acordo com o trabalho, isso teria levado a uma distorção, por exemplo, equivalente a 24 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) nos cálculos do desmatamento ocorrido na região em 2004, ano de devastação recorde, quando 27,4 mil quilômetros quadrados de matas foram colocados abaixo. Isso equivale a quase dois anos e meio de emissões da cidade de São Paulo.

As equações utilizadas para esses cálculos têm distorcido os dados na região do arco do desmatamento na floresta amazônica, superestimando sua biomassa, afirmam Philip Martin Fearnside, coordenador do trabalho realizado por Euler Melo Nogueira, Bruce Walker Nelson, Reinaldo Imbrozio Barbosa e Edwin Willem Hermanus Keizer, segundo texto Fábio de Castro, da Agência Fapesp, e da assessoria de comunicação do MCT.

Os dados mostram que a emissão de gases de efeito estufa proveniente da queima de biomassa florestal na Amazônia é bem inferior ao que se pensava. A estimativa de biomassa é feita com o auxílio de um modelo alométrico: uma equação matemática que relaciona algumas variáveis das árvores, como o diâmetro e a altura, com a biomassa.

Mas essas equações, feitas com base nas características da floresta densa, não funcionam bem, segundo Fearnside, quando aplicadas à floresta aberta do arco do desmatamento, que corresponde a um terço da Amazônia e gera 80% das emissões por desmatamento. As novas equações alométricas criadas pelos pesquisadores, mais adequadas à realidade da floresta aberta, indicam que a floresta emite anualmente 24 milhões de toneladas de carbono a menos do que se imaginava.

Fearnside explica que o problema dos cálculos feitos até agora é que eles se baseiam nos dados obtidos exclusivamente na Amazônia central. Até hoje, todos os dados são das regiões de Manaus, Belém e de áreas de florestas densas perto do rio Amazonas. Mas no arco de desmatamento o que existe é um outro grupo de florestas, a floresta aberta.

Para ele dados como a densidade de madeira, forma e altura das árvores são importantes de serem levados em consideração. Para calcular a biomassa no arco do desmatamento eram usadas equações com base nas áreas da Amazônia central. O inventário brasileiro sobre as emissões de carbono, por exemplo, utilizou equações que foram feitas em Manaus, para florestas densas, e aplicou ao arco do desmatamento.

"Foi uma coisa que descobrimos em pesquisas anteriores: as árvores de lá são mais leves do que as da Amazônia central. A madeira é menos densa e, portanto, tem menos biomassa." Assim, os cálculos feitos até agora estavam superestimados, segundo Fearnside.

O pesquisador diz que foi em pesquisas realizadas em 1997 que se descobriu que as árvores da floresta aberta são mais leves do que as da Amazônia central. "Na oportunidade mostrávamos que as espécies mais leves apareciam com mais frequência no arco do desmatamento. O que descobrimos agora é que as árvores da mesma espécie também são mais leves por lá. Além disso, o teor de água na madeira é maior do que na área de floresta densa. Quando a madeira é mais leve, ela contém mais água. Então, quando se multiplicavam os valores por uma constante, para extrair o peso certo, sempre se usavam dados da área de Manaus. Além disso, observamos que as árvores de diâmetro semelhante nas duas regiões são mais curtas na área de floresta aberta. Tudo isso contribuiu para um grande exagero nas estimativas de biomassa", explica Fearnside.

O trabalho realizado agora pelos cinco pesquisadores conclui que a emissão potencial de carbono é muito menor do que se imaginava. Mas isso não prejudica a argumentação contra o desmatamento. "Ao contrário, os argumentos contra o desmatamento se fortalecem, porque os cálculos estão mais corretos. Por acaso, os valores de emissões eram mais baixos do que os previstos. Mas o importante é ter certeza se os dados são ou não confiáveis. O fato de sempre haver muita incerteza é um dos principais argumentos para não dar valor à floresta. O resultado da pesquisa joga a favor da preservação", afirma Fearnside.

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