“O sonho que eu tinha quando vim para cá morreu”
Um dos brasileiros agredidos por um grupo de jovens na Inglaterra conta sua versão de como foi o ataque e diz que a polícia mudou a abordagem depois da repercussão do caso
Publicado por Kassu - 15/03/2009 às 10h02
AGUA BOA NEWS
Shane (à esquerda) e Márcio Toso foram agredidos por um grupo de jovens na Inglaterra. Toso diz: "Nunca imaginei que pudesse existir tanta raiva"
ÉPOCA - Como aconteceu a agressão?
Márcio Toso - Eu tinha ido até o apartamento do Shane, em Henbury, para preencher um currículo. Na hora de ir embora, ele me acompanhou até o carro. As câmeras de segurança da rua registraram, desse momento até a chegada da polícia, quinze minutos. Foi o que a polícia disse. Eu lembro de uma menina de roupa toda preta e brincos enormes – o grupo não tinha nada de ameaçador. Perguntaram que idioma estávamos falando e, quando respondemos que era português, começou a provocação. Pedimos para que elas nos deixassem em paz, mas não adiantou. Começou a chegar mais gente – eram quase 20 pessoas. Bateram no Shane até ele desmaiar e roubaram minha bolsa e meu computador. Fiquei assustado porque vi meu amigo desmaiar de tanto apanhar.
ÉPOCA – Qual foi sua reação quando viu seu amigo caído no chão?
Márcio Toso – Eu peguei um pedaço de madeira que estava por perto e comecei a bater em todo mundo. Primeiro acertei uma das meninas que tinha batido no Shane. Um dos caras conseguiu segurar e empurrar o pedaço de madeira na minha direção. A madeira bateu no meu rosto. Eu levei sete pontos na testa, mas os médicos disseram que isso não foi causado pela madeira, mas por algum objeto cortante como uma faca. Eu estava desesperado, mas se eu não tivesse me defendido, acho que eles teriam nos matado.
ÉPOCA – O tratamento dado a vocês pela polícia mudou depois da repercussão?
Márcio Toso – A postura da polícia mudou completamente depois que procuramos a imprensa. Precisava mudar. Agora tem um monte de carro de polícia na rua. Eu nunca tive nenhum problema sério por aqui, mas todo mundo sabe que estamos numa região violenta. O pessoal daqui usa droga no meio da rua. Mas agora eles estão acelerando a investigação. O Shane procurou o consulado brasileiro, os jornais daqui e do Brasil divulgaram a história. Isso tem pressionado a polícia. Na primeira vez em que fomos à polícia denunciar a agressão, ouvimos que o bairro era violento e essa história não iria dar em nada.
ÉPOCA – Você ainda quer morar na Inglaterra?
Márcio Toso – Quero ir embora, voltar para minha mulher e minha filha que estão no Brasil. Mudei para a Inglaterra para trabalhar e não para apanhar. Nós procuramos uma ONG que ofereceu a possibilidade de processar o governo inglês. Mas isso sequer passou pela minha cabeça. Falando assim dá a impressão que eu quero ganhar dinheiro. Eu já havia sido xingado aqui em Bristol em uma outra ocasião. Estava acompanhado de um amigo que não falava inglês. "Por que você não volta para o lugar de onde veio, seu imigrante?". Eu tive que ouvir isso, mas nunca imaginei que pudesse existir tanta raiva. Uma senhora até me parou na rua para dizer que estava envergonhada pelo fato de ser inglesa naquele momento. O sonho que eu tinha quando vim para cá morreu. (Andres Vera/Época)

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