Sobre terra, Índios Xavante e Meio Ambiente

Publicado por Kassu - 05/03/2009 às 09h07
AGUA BOA NEWS



Agora que o governo Lula está com esse ibope todos, 85% de aprovação, o que é algo insólito, eu, indo na contramão da maioria, vou falar de três aspectos da maior importância, nos quais o governo Lula, no meu entender, pisa na bola deixando muito a desejar.

REFORMA AGRÁRIA

Decididamente o atual governo se entregou de corpo e alma nas mãos da bancada ruralista e do agronegócio. Para complicar mais a situação, o Incra de Mato Grosso virou caso de polícia já que vários dos seus funcionários em cargos de chefia foram presos em Cuiabá.

Na nossa região o governo pretendia (não sei se ainda pretende) fazer da fazenda Bordolândia um assentamento modelo para todo o Estado e toda a Amazônia. Isso foi dito em minha casa pelo anterior superintendente do Incra, João Bosco. Hoje a Bordolândia está invadida por gente de toda espécie e será necessária até a intervenção do exército para conseguir tirar a quem não é freguês da reforma agrária e que lá se instalou há muitos meses.


ÁREA INDÍGENA MARAIWATSEDE

Na madrugada do domingo, 8 de fevereiro, foi incendiado no Posto da Mata o ônibus escolar dos Xavante que estava lá para ser concertado. Os xavante, no dia 9, fecharam por algumas horas em protesto, a estrada BR 158.

Sem entrar na discussão do que uns ou outros pensam, o fato é que a área Maraiwatsede é legalmente reserva indígena, terra Xavante, demarcada e homologada no governo Fernando Henrique Cardoso.

Os que a invadiram agora propõem uma solução salomônica: metade para os índios, metade para os invasores. Os Xavante nem lhes passa pela cabeça semelhante saída. A terra é deles por lei e a querem toda, e já está, dizem, bastante degradada. Durante anos quem a invadiu sabendo que era terra indígena, dela se aproveitou e ainda hoje há grupos que continuam desmatando.

A solução defendida pela Prelazia é pública. Nossa Igreja sempre se colocou ao lado dos povos indígenas e apoiou a luta dos Sem Terra. A Igreja defende que os que não são fregueses da reforma agrária saiam logo e os que estão dentro da área indígena e tem direito à terra por serem Sem Terra sejam assentados na fazenda Bordolândia. O Incra tem reservado espaço pra eles.

Mas o governo neste tema também empurra o problema com a barriga, deixando-o como está para ver como é que fica.


MEIO AMBIENTE

Pessoas muito próximas ao presidente Lula têm dito publicamente que "entre o agronegócio e um ‘matinho‘ na Amazônia, Lula opta pelo agronegócio". O próprio Lula depois da eleição passada, celebrando a vitória na fazenda do atual governador deixou escapar que "os que atrapalham o progresso no nosso Estado são os ambientalistas, as ONGs e grupos afins".

Vários dos nossos municípios da região, entre eles São Félix do Araguaia, estão na lista dos municípios que mais agrediram o meio ambiente no ano passado.

Todos sabemos que é preciso combinar progresso para todos, (o que exige distribuição de renda), produção e respeito às normas ambientais. Progresso que não é para todos ou que depreda a natureza é atraso. A saída está na linha da agricultura familiar.

Os prefeitos atuais estão começando seus mandatos e têm muitos problemas e desafios pela frente. Nos dias 5 e 6 de março, os prefeitos dos 15 municípios que integram a Prelazia estão sendo convidados pela mesma para uma reflexão sobre projetos comuns que ajudem no desenvolvimento regional. Estará presente o ministro da Ação Social, Patrus Ananias.

É preciso que eles, nós, todos unidos busquemos saídas para o desenvolvimento da região como um todo.

Participei em janeiro do Fórum Social Mundial em Belém do Pará. Entre os muitos temas tratados, dois tinham importância especial: a crise econômica mundial e a crise ecológica, com ênfase especial para a Amazônia. Muitas propostas surgiram e todas iam na linha de combinar sabiamente a distribuição justa da terra, o respeito às áreas indígenas e o cuidado com o meio ambiente.


Paulo Gabriel