Um olhar além da linha do horizonte
Trajetória do homem que trocou o emprego no banco pela iniciativa privada, se elegeu prefeito e coloca o nome ao PR para disputar o governo
Nome: Maurício Cardoso Tonhá, o Maurição
Idade: 46 anos
Naturalidade: Santana (BA)
Profissão: empresário e pecuarista
Cargo: prefeito de Água Boa, pelo PR
Estado civil: casado com Jane Cristina
Filhos: Guilherme, estudante de Direito; Gabriela, que cursa Administração de Empresas; e Giovanna, 9 anos.
Por Eduardo Gomes / Diário de Cuiabá
Edição de Kassu - 14/03/2009 às 21h50
AGUA BOA NEWS
Parentes e amigos reagiram com a frase que melhor expressava aquilo que pensavam: “O homem é louco”. Nas rodas de conversa em sua cidade o assunto era único: “onde já se viu trocar cargo seguro garantido por concurso, com remuneração de quatro mil no Banco do Brasil, pela aventura de montar uma pista de leilões?”. Não adiantou. Ele deixou o emprego do qual estava licenciado para ir à Boa Terra da Bahia vender arroz e de lá trazer jegues para Mato Grosso.
Fundou a Estância Bahia Leilões, empresa que mais tarde seria âncora de um grupo que também opera com fábrica de ração, transporte, loja agropecuária e fazendas e que está presente em Cuiabá com uma filial. Era pura ousadia de quem acredita. Estava no caminho certo. Transformou-se em empresário bem-sucedido. Realiza o Megaleilão – maior evento mundial do ramo, segundo o Guinness. Enveredou-se pela política. Foi vereador e presidiu a Câmara de seu município, do qual é prefeito reeleito.
Com o microfone na mão, faz chover vendendo boiadas. É o nome mato-grossense que mais aparece no vídeo da televisão a cabo, leiloando ou abordando temas de interesse do agronegócio. A TV o fez conhecido nos quatro cantos do Estado. Baiano, já sentiu na pele a inclemência do sol no solo estorricado. Há 27 anos ajuda a escrever a história do Araguaia. Filiado ao PR, colocou seu nome à disposição para disputar a sucessão do governador Blairo Maggi. Louco coisa nenhuma! Nas veias de Maurício Cardoso Tonhá - o Maurição - corre o sangue dos que têm os pés no chão e os olhos além da linha do horizonte.
O Araguaia continua sendo o Vale dos Esquecidos?
Maurição – Muito pelo contrário. É o Vale das Oportunidades. É uma região que promete muito, que tem um potencial muito grande.
Por que a pecha de Vale dos Esquecidos?
Maurição – Ao longo da história, os governos não fizeram investimentos oficiais na região. Isso criou um desnível regional em relação a Mato Grosso, mas com a força do povo do Araguaia e os investimentos que os municípios recebem do governo viramos essa página.
Como está hoje o Araguaia?
Maurição – Está crescendo, não obstante a necessidade de se complementar sua logística ou infraestrutura de transporte rodoviário priorizando também hidrovias e ferrovia para que ele continue crescendo bastante.
O Araguaia está na mira dos investidores?
Maurição – Não apenas o Araguaia mas Mato Grosso como um todo, porque o Estado é um universo tão grande de oportunidades, que todas suas regiões com suas características têm possibilidade de crescimento. Quando falo do Araguaia é porque vivo e milito no Araguaia, onde sou empresário e prefeito. Conheço bem o potencial daquela região e sinto que seu desenvolvimento é irreversível. Ela somente não alcançou ainda o patamar de alguns polos desenvolvimentistas porque foi mantida isolada em razão da falta de investimentos públicos no passado.
Por que Água Boa cresceu mais que a maioria das cidades do Araguaia?
Maurição – Porque progresso não costuma andar em estrada de chão nem dormir no escuro. Água Boa tem a felicidade de integrar o sistema viário nacional desde 1986 por rodovia pavimentada. Desde 1998 a minha cidade está interligada ao sistema nacional de energia elétrica. Isso, sem dúvida, proporcionou a Água Boa um desenvolvimento acima da média do desenvolvimento do Araguaia. Quando nós concluirmos a pavimentação da BR-158 haverá uma explosão de crescimento dos municípios mais ao norte do Araguaia.
Como é administrar o município de Água Boa?
Maurição - Desafios a todos os momentos, mas ao mesmo tempo é gratificante, quando a gente percebe que é possível realizar as coisas com uma administração eficiente buscando resultados com transparência e principalmente com responsabilidade, fazendo com que o orçamento seja utilizado efetivamente em benefício da comunidade.
Além de ser possível, também existe milagre?
Maurição – Quando se acredita que é possível, é. Para os incrédulos parece milagre. Porém, para mim não se trata de milagre, mas apenas de concretização. Em Água Boa temos mostrado com trabalho, honestidade, competência, seriedade e determinação que é possível melhorar a qualidade de vida da população.
Água Boa se igualou a Lucas do Rio Verde e as duas são as únicas cidades de Mato Grosso totalmente pavimentadas. Por que?
Maurição - Fico extremamente satisfeito, porque Lucas é exemplo. Todos os prefeitos antes de assumir o mandato deveriam ir a Lucas. Foi isso que fiz, antes mesmo de ser candidato. Ouvi o então prefeito e agora deputado Otaviano Pivetta (PDT), pelo qual tenho respeito e grande consideração. Espelhei-me em Lucas, que é 100% asfaltada, mas fui adiante, pois Água Boa tem 105%. Além do asfalto no Centro e nos bairros, temos mais 5% de asfalto para a ampliação urbana para receber novos projetos de moradia popular.
Qual a reação do PR à sua proposta de candidatura ao governo?
Maurição – Na verdade, não levei nenhuma proposta ao PR. Somente falei que o PR não ficaria sem candidato ao governo. Sou prefeito, administro meu município e deixo bem claro que minha meta prioritária e continuar na prefeitura para cumprir meu mandato delegado pelo povo. Não sou carreirista político, não brigo por cargo nem carimbo, não sou do tipo do cidadão que acha que se ficar sem mandato perde a visibilidade. Muito pelo contrário, sempre toquei minha vida sem política, mas me sentiria muito honrado se pudesse contribuir com meu Estado, mas não sou candidato do PR. O que disse é que estaria colocando meu nome à disposição e efetivamente o faço, mas é bom que fique claro que o partido tem qualidade, tem liderança, tem muita gente preparada para ser candidato. O PR decidirá quem será o candidato, se algum dos nossos filiados ou alguém do arco de aliança.
Como surgiu o lançamento de seu nome ao governo?
Maurição - Na verdade, fui provocado. Quando falavam que o PR estaria sem candidato, após Luiz Antonio Pagot abrir mão da pré-candidatura, disse que nosso partido tem outros nomes e dentre os quais o meu, que coloco à disposição. Mas vale acrescentar que Pagot seria grande governador.
Essa é sua versão, mas no Araguaia há um movimento ‘pró-Maurição’ governador...
Maurição – (Sorrindo) É, sou permanentemente conclamado por muitas pessoas para que me lance candidato.
Diante disso...
Maurição - Diante disso poderei, sim, ser um instrumento de uma região, de uma atividade econômica e das pessoas que querem o bem de Mato Grosso, dentro de um entendimento, mas sem precipitação ou vaidade pessoal. Em razão disso externei esse pensamento, após a desistência de Pagot.
Caso não seja candidato ao governo poderia disputar outro cargo?
Maurição – Não tenho essa pretensão.
Qual seria sua participação política em 2010 caso não concorra ao governo?
Maurição – Mesmo que não seja candidato, darei minha contribuição, participarei de forma efetiva da discussão política de Mato Grosso.
Como é a participação do Araguaia na política?
Maurição - Ao longo dos anos tem sido pouco expressiva. A última grande expressão política que tivemos no Araguaia foi o governador Wilmar Peres de Faria, que era vice do governador Júlio Campos e assumiu o governo por nove meses. Desde então, temos perdido nossa capacidade de aglutinação de forças regionais para conseguir nos fazer representar politicamente no governo e nos Legislativos estadual e federal. Precisamos nos unir para mostrar no voto a força do Araguaia, valorizando o regionalismo e também fazendo com que sejamos ouvidos por nossos governantes.
Não seria difícil disputar o governo morando numa região isolada?
Maurição – Não vejo nenhuma dificuldade nisso. Conheço todos os municípios. Tenho clara noção da responsabilidade que é governar o Estado, porque ao longo dos últimos anos tenho participado com o governador Blairo Maggi de todas as suas ansiedades e dificuldades, pelo fato de ser prefeito. Participei de algumas expedições Estradeiros, o que faz com que a gente perceba as desigualdades regionais. Por mais que seja de uma região dita isolada, acho que posso contribuir muito com Mato Grosso.
Dificuldades de Maggi? Como é isso?
Maurição – Acho que ele está um pouco desestimulado para o cargo e gostaria que tivesse o mesmo ímpeto do primeiro mandato.
Isso reflete no PR?
Maurição – Sem dúvida! O governador Blairo Maggi precisava oxigenar seu governo, colocar mais vigor, mais força, mais presença do governo na sociedade. Ele tem muita capacidade e seu governo fez uma revolução fantástica que melhorou sensivelmente Mato Grosso, mas ainda está devendo algumas atividades em que ele precisava ser mais constante.
Por exemplo...
Maurição – A saúde, em que em Mato Grosso é realmente um caso mal resolvido e muito mal-explicado. A segurança pública também. Nessas duas áreas o governo precisa ser mais contundente para que possamos resolver esses problemas e não ficarmos na retórica. Não podemos ficar falando que segurança é problema do governo federal ou do governo estadual ou municipal. Afinal, é um problema de todos nós.
Politicamente, Maggi teria que fazer o quê,
Maurição - Acho que ele precisa de humildade para ouvir mais, para conversar mais e principalmente para demonstrar que é possível melhorar a gestão pública quando todos puderem participar dessa gestão. Acho que ele necessita principalmente de mais diálogo.
O perfil de Maggi e de Maurição é o mesmo, ao estilo ‘Turma da botina’?
Maurição – Não! O governador Blairo tem o perfil dele. Mauricio Tonhá tem o perfil dele. Sou baiano, filho de uma família humilde. Meu pai era pequeno produtor rural e minha, mãe professora primária. Meu berço é diferente do berço de Blairo Maggi. Na juventude, fui para Brasília. Tive que trabalhar durante o dia e estudar à noite numa escola pública. Tive a felicidade de ser aprovado num concurso da Caixa Econômica Federal e vim para Mato Grosso e posteriormente passei a trabalhar no Banco do Brasil, onde permaneci por alguns anos, com muita satisfação. Por isso, sou um cidadão nascido num berço diferente do de Blairo Maggi.

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