segunda-feira, 6 de abril de 2009

No Xingu, venda de 'carbono de floresta' é realidade distante

Pagamento para preservar matas é discutido em Brasília e Cuiabá.
Grande parte dos povos indígenas ainda desconhece o assunto.

Iberê Thenório Do Globo Amazônia, em Poconé - o jornalista viajou a convite dos organizadores do Katoomba Meeting
Publicado por Kassu - 06/04/2009 às 18h08
AGUA BOA NEWS



A ideia de receber dinheiro para preservar florestas, conhecida também como pagamento por serviços ambientais, anima governadores, cientistas e agropecuaristas, mas ainda é fato desconhecido para a maioria das tribos que habita o Parque Nacional do Xingu, no Norte de Mato Grosso.

Na última semana, um encontro em Cuiabá discutiu a criação de mecanismos que permitissem a países e empresas poluidoras compensar suas emissões de gás carbônico pagando a donos de terra a preservação de suas matas.

Índos Yawalapeti, que vivem no Xingu, dançam em frente a evento que
discutiu pagamento por 'carbono de floresta'.
(Foto: Iberê Thenório/Globo Amazônia)


A tribo dos Yawalapeti, que vive no Xingu, montou uma oca em frente ao evento, pintou seus rostos e dançou. Segundo seu chefe, o cacique Aritana, a dança era um protesto contra a poluição dos rios da região. O espetáculo de cores encantou os participantes da reunião, da qual os Yawalapeti ficaram de fora.

Quem falou pelos povos do Xingu foi o indigenista Márcio Santilli, do Instituto Socioambiental (ISA), que tem vários projetos na região. Ele tem feito reuniões com tribos locais para explicar como poderia funcionar um projeto de pagamento por ‘carbono da floresta’.


Ao contrário do que ocorreu na reunião em Cuiabá, onde se discutia detalhes técnicos de um possível mecanismo de pagamento por preservação, Santilli conta que a conversa com os índios tem que abordar princípios básicos do assunto. Muitos deles não sabem, por exemplo, o que é o aquecimento global.

Outro fator complicador é a diferença entre os povos. São pelo menos 14 etnias e 70 aldeias apenas no Parque do Xingu, uma das 20 terras indígenas da bacia do rio. “São povos que já travaram muitas guerras e têm visões diferentes do mundo”, explica o indigenista.

Falta de terras

A palestra de Santilli serviu de alerta de como o pagamento por ‘carbono de floresta’ pode demorar para se tornar realidade. Hoje, a maior parte das matas que estão aptas para esse tipo de serviço encontram-se em terras indígenas, pois são um dos poucos locais em que há floresta e os documentos das terras está totalmente regularizado.

“Nas terras griladas não se vai poder pagar um guardião da floresta, pois não se tem um dono legítimo”, avisa o pesquisador Sven Wunder, um dos autores do livro "Pagamento por Serviços Ambientais: Perspectivas para a Amazônia Legal", lançado pelo Ministério do Meio Ambiente em março.

Segundo Wunder, cerca de 50% das florestas da Amazônia estão preparadas para receber esse tipo de pagamento. Dessas, apenas a metade está em situação regular nos cartórios de terras e no Incra. “São terras indígenas, unidades de conservação e assentamentos”, afirma o pesquisador.

Nesta segunda-feira (6), um seminário organizado pelo Ministério do Meio Ambiente também discute a questão do pagamento por serviços ambientais. Mecanismos desse tipo são uma das grandes apostas brasileiras para conseguir gerar renda com a floresta em pé.

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