sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Lideranças Kisêdjê se posicionam contra Belo Monte

Representantes do povo Kisêdjê, da Terra Indígena Wawi, ao leste do Parque Indígena do Xingu, afirmam que a comunidade xinguana é contra a construção da usina e teme os impactos que as barragens causarão no Rio Xingu

Fernanda Bellei, ISA


Os protestos dos índios do Xingu contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte ganham apoio do povo Kisêdjê, também conhecido como Suya, da Terra Indígena Wawi, ao leste do Parque Indígena do Xingu (PIX). Nhonkoberi Suya, coordenador do escritório regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Canarana, afirma que, apesar de não marcarem presença na manifestação realizada em Brasília nos dias 7 e 8, a comunidade Kisêdjê não quer Belo Monte. “O Xingu está sempre unido. Todos nós estamos preocupados com o que vai acontecer com a nossa terra. Nós dependemos da água para viver, precisamos da natureza preservada para pescar e nos alimentar. Esta obra certamente causará grandes impactos a nossa terra e a nossa vida”.

A dimensão do projeto de Belo Monte que, se construída, será a segunda maior hidrelétrica do Brasil, é de conhecimento dos indígenas, tanto quanto o alcance de seus impactos. Ianukulá Kisêdjê, assessor da coordenação da Funai em Canarana, confirma que seu povo teme o que está por vir. “Sabemos que a primeira barragem é apenas o começo. Depois virão novas barragens que irão trazer mais destruição para o rio. Todos os xinguanos se sentem ameaçados”. Ianukulá cita também a previsão de povoamento da região. “Milhares de operários virão trabalhar na obra, sem nenhum planejamento. Isso traz grandes impactos sociais, pois aumenta o número de pescadores, aumenta o desmatamento e o consumo. O Xingu não será mais como é hoje”.

União xinguana
A força dos povos do Xingu é notória. O Parque Indígena do Xingu abriga 16 etnias, que se esforçam para manter suas tradições e costumes. Wanduwabati Suya, filho do cacique Kuiussi Suya, garante que os xinguanos unidos conseguem parar a obra. “Se a gente se unir, defendendo nossa causa, a gente tem muita força. A energia produzida por Belo Monte pode ser uma coisa boa para o governo, mas o que fornece a vida para nós é a natureza, o rio e a mata. Queremos continuar vivendo como vivemos hoje”.

Wanduwabati diz acreditar que autoridades envolvidas com o projeto da usina querem atrapalhar a articulação dos povos indígenas, para que não representem uma ameaça. “Sabemos que os próprios Kaiapós estão tendo divisões internas no movimento. Os brancos estão oferecendo dinheiro para que eles sejam a favor de Belo Monte. Isso nos enfraquece, pois somos todos contra”.

Críticas a Funai
No dia 20 de janeiro, o antropólogo e presidente da Funai Márcio Meira, deu o seu aval a Belo Monte, em ofício enviado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O aval contraria o parecer da equipe técnica da própria Funai, que aponta para a falta de ações concretas para as comunidades indígenas e pede que a Fundação não se manifeste a favor da emissão da licença de instalação da usina.

Para Wanduwabati, a atitude de Márcio Meira mostra que a Funai quer defender os interesses do governo e não dos índios. “O atual presidente da Funai não está nos apoiando, isso está nos deixando muito insatisfeitos. Esta instituição deveria pelo menos ouvir os índios, a comunidade indígena nunca foi consultada. Quem está nos defendendo, afinal?”

Povo Kisêdjê
Os Kisêdjê constituem o único grupo de língua Jê que habita o Parque Indígena do Xingu. Mas desde sua chegada na região, provavelmente na segunda metade do século XIX, seu contato com outros povos xinguanos e, principalmente, com aqueles da chamada área cultural do Alto Xingu, ocasionou a incorporação de muitos costumes e tecnologias alheias. Entretanto, jamais abriram mão de sua singularidade cultural, cujo principal emblema pode ser reconhecido num estilo particular de canto ritual, expressão máxima das individualidades e do modo de ser da sociedade Kisêdjê. Até algumas décadas atrás, outro marco diferencial do grupo eram os grandes discos labiais e auriculares que, mais do que ornamentos, apontavam a importância do cantar e do ouvir para esse povo. Saiba mais sobre os Kisêdjê.

Saiba mais sobre a polêmica da Usina de Belo Monte

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