quarta-feira, 8 de junho de 2011

Trilha de seis dias no Monte Roraima desvenda a grande atração

 

Que força é capaz de unir 15 pessoas desconhecidas, para caminharem durante seis dias, acampando em meio a um grande cerrado aberto e enfrentando todo tipo de intempérie? Só a força da natureza. E humana. Ir ao pouco conhecido estado de Roraima para uma aventura desgastante e emocionante e escalar o Monte Roraima não faz parte dos planos de viagem da grande maioria. Quinze pessoas de vários pontos do Brasil –, mineiros, paulistas, cariocas, brasilienses, cearenses e amazonenses –, encararam a trilha e voltaram com muita história para contar. Uma delas você confere aqui.

Na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, quase tudo que envolve o Monte Roraima é grande. Mas nós, veja a ironia, ficamos pequenos. Somos apenas parte do ecossistema e, com respeito e humildade, atravessamos um grande cerrado aberto para chegar até a sua base, admirá-lo e nos perguntar se conseguimos subir. Não é uma tarefa fácil. Porém, é gratificante. No primeiro dia, saímos de Boa Vista até Santa Helena de Uairen, cidade venezuelana fronteiriça com o Brasil. Lá, compramos todos os mantimentos para a viagem, trocamos os carros por caminhonetes 4x4 e rumamos para Paratepuy, uma pequena comunidade indígena de onde começamos a caminhada.

Serão, a partir daqui, seis dias para ir, subir ao monte e voltar. Caminhando.
O peso da mochila é de mais ou menos 10 quilos. As barracas, suprimentos e comida vão nas costas dos carregadores, acostumados a levar 20, 30 quilos em mochilas rústicas.Depois de caminhar por quatro horas e presenciar um belíssimo arco-íris, chegamos ao primeiro acampamento: o Ték. Nome dado ao rio que o banha. Aqui, podemos ver ao longe o Kukenán, o monte que fica ao lado do Roraima. À noite, depois de um banho nas águas geladas do Ték, observamos o céu estrelado brindando-nos com a silhueta dele ao longe.

No segundo dia, o sol banhava o Kukenán numa luz dourada que o deixava ainda mais belo e temeroso. Os dois montes são conhecidos também pelas cachoeiras que os banham. No Kukenán, que significa “águas turvas”, existe o Salto Kukenán, uma queda de água não permanente de 610m de altura. Já no topo do Roraima está localizada a nascente de três rios. Por isso, para alguns habitantes da região, o monte é conhecido como “mãe de todas as águas”.

A caminhada começa atravessando dois rios, o Ték e o Kukenán. Nos próximos nove quilômetros andamos debaixo de um sol quente ao longo da savana venezuelana, numa subida longa, interminável, de mais de 800 metros de inclinação. A distância, avistávamos o grande Monte Roraima. E conforme andávamos, o monte ia ficando mais alto. E é a 1.870 metros de altitude, ao seu pé, que paramos para dormir no acampamento-base.

O terceiro dia do roteiro
O dia seguinte nos aguardava com uma subida até os 2,7 mil metros de altitude, o topo do monte. Era hora de preparar mais uma vez a mente, o corpo e o espírito. Ao longo da subida, em alguns trechos é preciso engatinhar, quase escalando paredões de praticamente 80 graus de inclinação. Começamos o dia aliviando o peso da mochila para subir mais leves.

São três horas até o topo, por uma rampa, a trilha dura e íngreme, com mistura de cansaço e vistas incríveis. À certa altura, quase no topo, tivemos um dos momentos mais bonitos de toda a caminhada: o Passo das Lágrimas. Passamos por baixo da cachoeira, que está ali perfeitamente instalada para nos brindar com suas gotas de água refrescantes e de uma beleza indescritível. A vista deste ponto é linda, estamos acima da metade da altura do monte.

Em menos de uma hora alcançamos o topo, uma superfície rochosa negra, disforme e irregular, com pequenos arbustos, morros e poços de água por todos os lados. Na beirada do monte, uma vista do topo do céu. Mas ainda era preciso andar uns 40 minutos até o nosso acampamento, o Guaxaro, que nada mais é do que uma grande caverna incrustada num dos vários morros que existem em cima.

No quarto dia, sol e muita neblina
No quarto dia conhecemos o topo do monte. Sua área total é de 35 quilômetros quadrados. Lugar com rios, lagos, montanhas, formações rochosas, cristais, arbustos e plantas únicas. É possível chegar à tríplice fronteira entre o Brasil, a Venezuela e a Guiana num percurso de 24 quilômetros. Optamos por fazer uma caminhada de uns 10 quilômetros, cheia de paisagens de cair o queixo. Por cerca de oito horas andamos por trilhas onde cristais brotavam do chão. Passamos pela jacuzzi, assim chamada por ser uma série de poços de águas cristalinas desaguando um no outro, formando pequenas piscinas conectadas entre si.

Chegamos a um precipício, numa outra ponta do monte, quando no percurso, apesar do dia ensolarado, uma nuvem tomou conta e tudo ficou branco. O que se via pela frente eram apenas silhuetas dos trilheiros e das rochas em meio a uma nuvem espessa. Na volta ao acampamento, curiosamente, o tempo abriu e chegamos com o céu limpo. Havíamos caminhado num cenário lunar, com uma paisagem de encher os olhos e o coração, ora sob o sol, ora por entre as nuvens.

Depois do jantar, era a hora de despedir do céu. Nossa última noite no topo. Olhando para cima, um brilho infinito de estrelas e apenas a silhueta negra da montanha que abrigava nossa caverna com o céu brilhando acima dela. No quinto dia descemos o monte, em mais ou menos três horas, e pelo caminho passamos por várias pessoas. Havia uma estória, contada pelos índios, que a montanha não gosta de barulho e confusão. E quando isso acontecia, ela se irritava e fechava o tempo lá em cima.

Chegamos ao acampamento-base para um almoço rápido. Ainda teríamos todo o caminho de volta até o acampamento Ték. À medida que descíamos, olhando para trás, o monte ficava cada vez menor e mais distante. E por mais incrível que pareça a estória contada pelos índios, ao longe víamos que o tempo no topo havia mesmo fechado. Sinal de que cairia chuva ali em cima. Por volta das 16h chegamos ao Rio Ték, depois de caminhar o trajeto de dois dias em apenas um. Banho revigorante, roupas limpas, corpo são e mente ainda mais, prontos para comemorar a chegada. Quinze pessoas que nunca se encontraram, unidas por um objetivo, vivendo e convivendo por seis dias seguidos com harmonia e respeito.

Depois de uma noite de festa, começamos o sexto dia com mais quatro horas de caminhada até Paratepuy, onde fomos saudados com a cerveja mais gelada e a recepção mais calorosa. Cumprimos a trilha com sucesso. A alegria e a satisfação eram imensas, mas ao mesmo tempo sabíamos que ali acabava um momento mágico na vida de todos, com a certeza de que ficaria marcado para sempre em nós. Apesar de ser uma trilha extrema, com quase nenhum conforto e muito cansativa, o Monte Roraima é muito prazeroso e compensador. Saber que somos capazes de, com todas as nossas limitações e imperfeições, superar as dificuldades e completar o trajeto.

Seja você um adolescente, um idoso, atleta ou não, se tem força de vontade e ama a natureza, o Monte Roraima pode se tornar o destino certo para sua próxima viagem. Faça-o com calma, respeito e admiração. Tire muitas fotos e aproveite. Esta é uma viagem para poucos. E para sempre. 

 Saiba mais

Arrume as malas

A Gol oferece voos para Boa Vista (RO) partindo do Recife com escalas em Brasília e Manaus. A TAM também tem saídos da capital pernambucana. O preço ida e volta varia de acordo com o período, para julho e agosto sai a partir de R$ 1.500 por pessoa.

Em Boa Vista, uma boa pedida é o Hotel Aipana, (95) 3224-4800 begin_of_the_skype_highlighting              (95) 3224-4800      end_of_the_skype_highlighting, com diárias, casal, a partir de R$ 175, com café da manhã, localizado em frente ao Palácio do Governo. Outra opção muito mais em conta é o Hotel Ferrari, (95) 3623-7338 begin_of_the_skype_highlighting              (95) 3623-7338      end_of_the_skype_highlighting, localizado no Centro com diárias a partir de R$ 94 (no dinheiro) e R$ 99 (no cartão), sendo que o quarto é para até três pessoas, que podem dividir esse valor. Leve em consideração que a estada será limitada a, no máximo, dois dias.

Por ser a beira do Rio Branco, é melhor experimentar pratos com peixes frescos do rio. No Restaurante Meu Cantinho é possível comer bem e com preços acessíveis vários pratos com peixes, grelhados, ensopados e fritos. Além da vista do rio, a casa é a antiga sede da fazenda que deu origem à cidade de Boa Vista. Rua Floriano Peixoto, 22 – Centro

E logo adiante, na beira do rio, outra opção é o restaurante e peixaria Ver o Rio, com várias opções de peixes e carnes. Rua Floriano Peixoto, 116 – Centro

Para subir o Monte Roraima é preciso estar bem equipado e estruturado. E em Boa Vista, nenhuma agência cumpre melhor esses requisitos do que a Roraima Adventures. Com guias que realmente conhecem a história do monte, eles estão preparados para qualquer imprevisto que possa ocorrer na viagem. É possível fazer pacotes de seis, sete ou até 10 dias, com preços que variam conforme o número de pessoas. Com mais de seis anos de estrada, a Roraima Adventures é certeza de uma viagem estruturada e segura.

A lista é grande, mas o básico do monte é: mochila estilo backpack, bota para trekking, sandálias papete para os rios, chapéu ou boné, protetor solar, roupas leves para caminhada, roupas de frio, alimentos rápidos e leves como barras de cereal e de proteína, saco de dormir, isolante térmico, e além de, claro, capa de chuva. 

Por Gustavo Oliveira, do Correio Braziliense

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