quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sandy, muito prazer

Por Zeca Camargo


Eu já te entrevistei um bom par de vezes, Sandy. Já assisti a alguns de seus show – em especial aquele de “despedida” da parceria com seu irmão. Já li muitas entrevistas suas – e já te vi em incontáveis programas de televisão – inclusive no que eu trabalho, em outras reportagens que não assinei. Assim como milhares (milhões!) de fãs, eu achava que te conhecia bem – talvez com uma pequena vantagem com relação a esses outros admiradores, pelo fato de eu ter chegado um pouco mais perto de você, quase sempre em ocasiões profissionais. Mas só agora, depois que li a entrevista que você deu à revista “Playboy”, eu posso dizer que conheci uma Sandy diferente – talvez mais próxima do que é a Sandy “de verdade”. Talvez mesmo até uma Sandy mais “estudada” para provocar o público de uma revista masculina (nunca se sabe…) – mas, sem sombra de dúvida, uma Sandy mais honesta. E isso, nesse mundo deliciosamente maluco do “showbizz” é o que realmente interessa.

Sei que entro no assunto dessa sua entrevista com certo atraso – mas sei também que você vai compreender meus motivos. Teria sido fácil eu comentar em cima da divulgação da sua entrevista – um processo normal, quando se trabalha com mídia, de lançar algumas “aspas” (entre aspas mesmo, como a gente costuma dizer no jargão jornalístico), para criar um boca a boca a boca de algo que ainda não foi lançado.  Mas seria mais um comentário vazio, e certamente fora do contexto – tão estridente quanto todos os que vimos circular alguns dias atrás nesse meio que já tem uma queda para a histeria… Então preferi esperar que a revista chegasse às bancas, que eu pudesse ler com calma tudo que você falou – e aí sim, tirar minhas conclusões. E minha primeira reação, sem medo de me repetir, é essa: muito prazer, Sandy.

A essa altura, dois parágrafos depois (uma “distância” que a maioria dos cínicos de plantão na internet não costumam alcançar), creio já ter espantado os oportunistas que estavam só esperando para ler o que eu iria escrever para alfinetar não só suas repostas mais ousadas à “Playboy”, mas minhas própria palavras escritas especialmente para você. Assim, a essa altura, sinto-me à vontade para cumprimentá-la pela coragem e maturidade que você demonstrou ao longo da conversa. Mais do que sua opinião sobre práticas sexuais (já falo disso mais adiantes – tenho que afugentar mais alguns curiosos desavisados que improvável e teimosamente talvez tenham acompanhado o texto até aqui!), o que eu queria destacar é a sua transparência e, sobretudo, sua capacidade de surpreender não só seus fãs, mas também os marmanjos que tinham aquela fantasia sobre sua figura.

Fantasia essa que, como você colocou muito bem, era a da “virgem do Brasil”. Para eles (e elas também, certo meninas?), o ideal seria que você continuasse a cultivar essa imagem para sempre. Claro! Essa era a fantasia erótica perfeita para boa parte desse público. Mas ao contrário deles – que, mesmo sem admitir, adorariam viver numa eterna adolescência – você cresceu. Casou, transou, gostou (ainda que, como você deixa no ar na entrevista, de maneira bem-humorada, não necessariamente nessa ordem…). E agora se sentiu à vontade para falar sobre tudo isso. Esse desmanche da fantasia, creio, é o que causou tanta sensação com relação às suas declarações – e que, secretamente, arrasou o coração de milhares de admiradores com a própria vida sexual claudicante por todo o Brasil. Você acha que alguém que tinha você em alta conta nas suas fantasias eróticas gostou de ler você dizendo: “Se meu marido me acha gostosa, então pra mim já basta”?

Esse é, claro, apenas um exemplo da franqueza com que você encarou as perguntas – e que eu, como jornalista, tiro meu chapéu (para os dois lados, entrevistada e entrevistadoras – a editora Adriana Negreiros e a repórter Camila Gomes). Naquelas linhas, encontrei uma Sandy que, mesmo tendo sido pego de surpresa, eu talvez já esperava que existisse – afinal, você já é uma mulher, de 28 anos, num casamento feliz! Aliás, como você também coloca, a essa altura você é “uma pessoa bem resolvida, casada, tudo certo”! Ninguém vai admitir isso, mas o que deixou parte dos seus admiradores chocados foi isso – e não a sua opinião sobre prazer e sexo anal.

Acho que quatro mil toques depois (sem duplo sentido, por favor – como diria o “venerado” repórter Agamenon Mendes Pereira!), já podemos falar sobre isso – sem medo de estarmos sendo lido por alguém que só quer se aproveitar disso para fazer uma piada sem graça e gratuita (com você e/ou comigo), que não seria nada além do reflexo do próprio desejo reprimido de quem se manifesta. Mas eu divago… Vamos voltar para a entrevista!

Suas aspas “polêmicas” (sim, agora as aspas estão em outra palavra – e você sabe porquê) trazem a seguinte declaração, feita depois da colocação “Dizem que mulheres não gostam de sexo anal. Você concorda com isso?” (o fato de a pergunta ter sido feita por uma mulher mas colocada na “terceira pessoa anônima”, o tal “dizem”, cria um pequeno ruído na conversa, mas vamos deixar barato…): “Então… Não tem como responder isso sem entrar numa questão pessoal. Mas falando de uma forma geral, eu acho que é possível ter prazer anal sim, porque é fisiológico. Não é todo mundo, Deve ser uma minoria que gosta”.

Pronto! Foi o que bastou para que todo um levante de falsos defensores do pudor se manifestasse. Não faltaram os que se mostraram horrorizados – horrorizados! – com a possibilidade de que você, a Sandy dos sonhos deles, mostrasse que tinha uma opinião sobre um assunto que eles mesmos não têm coragem de discutir na sua intimidade, nem mesmo “dentro de casa” (a não ser que muito bêbados, numa noite em que finalmente eles resolvessem convencer suas esposas de tentar algo diferente…).

Percebe a ironia, Sandy? Esse time de pseudo defensores da moralidade viu na sua declaração uma oportunidade “mágica” de poder falar daquilo que não ousam – mas desejam… (ou, pelo menos fantasiam!). O tabu – que, ao que parece, você cutucou – não estava dentro da sua cabeça, mas justamente na daqueles que fizeram questão de se mostrar escandalizados – escandalizados! – com sua “ousadia”. Que é, diga-se, a de discutir – e, como ficou claro na edição da entrevista, de um ponto de vista genérico, e não pessoal – um assunto que eles fingem não existir.

Como ilustração, conto aqui um episódio que eu mesmo vivi recentemente – e que tem a ver com a sua entrevista. Numa conversa entre amigos (alguns deles jornalistas), acabamos caindo nessa sua declaração – que havia “explodido” na internet, e que, justamente por esbarrar num tema “delicado”, mostrava-se virtualmente impossível de repercutir. Que outro veículo, que não a própria “Playboy”, teria espaço para tratar do assunto – que tornou-se, sem dúvida, popular –, de uma maneira que não fosse vulgar? Nem preciso dizer o quanto a discussão foi ficando cada vez mais “quente”, até que a certa altura, eu já um pouco irritado com o nível crescente da hipocrisia sugeri: “Por que não começam a repercutir o assunto em casa, para ver a reação das suas esposas e maridos – e aí sim ver uma maneira interessante de desenvolver uma matéria?”.

O assunto acabou ali mesmo.

Percebe o que você fez, Sandy? Chacoalhou a intimidade de um monte de casais – e mesmo de solteiros com mentes “criativas” –, simplesmente porque deu uma opinião (genérica, e não pessoal – é bom sempre reforçar) sobre um assunto que mesmo gente que se diz tão liberada, tão “moderna”, tão “cabeça aberta”, não consegue discutir sem melindres. Foi divertido ver o desenrolar desse quiproquó nesses últimos dias – uma “bola de neve” que, como tudo que é “polêmica” que surge na internet, passou mais rápido do que o calendário conseguiu acompanhar…

Mas o que fica disso, pelo menos para mim, é a imagem de uma artista ainda mais legal – que é você. É realmente delicioso ver que você cresceu, e essa parte dos seus fãs não… É um pouco como se você agora estivesse dando o troco – depois desses anos todos deixando sua imagem ser explorada (um processo que tinha, pelo menos em parte, a sua cumplicidade), parece que agora você é quem estivesse finalmente manipulando eles, como quem diz: “tolinhos… vocês acham que podem controlar o que eu penso…?”. Nada disso, eu entendi bem. Por isso, renovo minha confiança em você como uma pessoa bacana, Sandy.

E escrevo isso não pelas aspas do sexo anal, mas por tantas outras ao longo da entrevista, que me convenceram de que você – independente do rumo que sua carreira for tomar (cantora? atriz? mãe?) – está com as rédeas da sua vida na mão. Afinal, quantas pessoas, ao serem perguntadas sobre um outro assunto tão delicado como a traição no casamento, sem se apoiar na surrada muleta da religião, teria a lucidez de responder: “Homem gosta de sexo, gosta de variedade, gosta de experimentar. Só que, quando ele tem um autocontrole e um amor tão grande, isso dá força para se controlar e ele consegue ser fiel.”?

Vai que a vida é sua Sandy. E se a gente se encontrar por aí numa outra entrevista – nunca se sabe – pode contar com o dobro de respeito e o dobro da admiração que eu já tinha por você!

Um beijo.

O refrão nosso de cada dia

“Kore ga Watashi no Ikiru Michi”, Puffy – que tal um refrão em japonês? Na verdade, acho que essa música – que descobri na primeira viagem que fiz ao Japão, em 1998 – tem até mais de um refrão… Isso mesmo: para uma faixa pop, ela é extremamente complexa (ou vai ver eu estou exagerando só porque ela é japonesa…). Durante anos – até a internet me ajudar – cantei essa música sem ter idéia do que ela queria dizer. Hoje é fácil achar um site com a tradução da letra (que é, afinal, sobre o prazer de aproveitar a vida), mas bom mesmo, se me permitir a sugestão, é você decorar o que Ami e Yumi (as duas “meninas” do Puffy) falam e ir cantando só pelo som – nem que seja só o “sayonara” no final…

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