KOMBI "ON THE ROAD"
Um
sebo com o pé na estrada: Dupla de músicos transforma uma antiga Kombi
dos Correios em uma loja de discos e livros em um projeto inovador que
esbarra na burocracia oficial
por: kombiecia.blogspot.com.br
Bob
Dylan, Cartola e Jack Kerouac circulam pelas ruas de Curitiba. E fazem
isso a bordo de uma Kombi amarela que, depois de aposentada pelos
Correios, foi transformada no primeiro sebo móvel da cidade.
Livros,
discos de vinil, CDs e DVDs novos e usados para venda, compra e troca
são oferecidos ao público no esquema tradicional dos sebos. A diferença é
que agora é possível ter acesso a eles nas portas de bares, em praças,
festas de bairro e também em domicílio. A
ideia inovadora saiu da cabeça do músico Hamilton de Lócco, o Camarão,
ex-integrante da banda curitibana OAEOZ. “Dentro daquela lógica de que a
arte tem que ir aonde o povo está”, explica.
Ele,
que já teve um sebo tradicional e também comprava e vendia livros pela
internet, fez as contas e avaliou que adquirir a Kombi por cerca de R$
19 mil era mais vantajoso do que alugar um imóvel. “Sem contar que é
muito mais divertido sair pela cidade, viajar e conhecer as pessoas do
que ficar parado.”
Seu
parceiro na empreitada é o também músico Jahir Eleuthério,
ex-guitarrista do Gruvox e de outras bandas locais. O projeto foi
batizado de On the Road, título original da obra-prima de Jack Kerouac.
Isto, pois segundo Jahir, a ideia é “cair na estrada”. A primeira viagem
foi à Feira Literária de Guaratuba, no litoral do estado. No ano que
vem, a dupla planeja várias outras viagens, incluindo a Festa Literária
Internacional de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro.
Acervo
No
acervo de livros, explica Camarão, estão apenas itens que passam pelo
crivo do gosto pessoal da dupla de sócios. “Clássicos, contracultura,
publicações de arte em geral e livros técnicos na área das ciências
humanas”, define. Na música, a curadoria segue a mesma linha: “Muito
rock, jazz, música brasileira, experimental, cult, e discos raros. Só
coisa boa”, garante.
Dentro
do utilitário ano 2010, luminárias a bateria ajudam os leitores a
decidir sobre as compras quando a noite já caiu. Já quem quiser um disco
pode atestar o bom estado do vinil em uma vitrola portátil, a pilha.
Camarão
conta que o sebo móvel tem chamado muita atenção pelas ruas onde passa.
“Às vezes, rola um estranhamento, as pessoas pensam que é alguma coisa
do governo. Mas, depois que percebem o que realmente é, somos
bem-aceitos.” Ele conta que o projeto foi escolhido como um case de
marketing por um grupo de alunos e professores da agência experimental
de publicidade e propaganda do Centro Universitário Curitiba UniCuritba,
que vai prestar assessoria ao projeto.
Alvará
A
proposta inusitada do sebo móvel criou, entretanto, um impasse para os
sócios quando enfrentou a burocracia estatal. Camarão não conseguiu o
alvará de funcionamento, nem a liberação para ocupar via públicas, pois a
modalidade de empresa não está prevista na legislação.
“Há
uma lista de coisas que podem ser vendidas por ambulantes, como algodão
doce e cachorro-quente. Discos de rock não estão neste rol”, alfineta. A
dupla espera legalizar a empresa em breve e assim conseguir instalar
uma máquina de cartão de crédito, cuja falta tem atrapalhado os
negócios. “Mas vai dar certo. 2013 será o nosso ano”, acredita Jahir.
* Sandro Moser/Gazeta do Povo.
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