segunda-feira, 4 de março de 2013

OS ÍNDIOS GORDOS, O FACEBOOK E IDENTIDADE.

Por: Naine Terena de Jesus
A celebre frase “Posso ser quem você é sem deixar de ser quem sou” parece que não tem convencido algumas pessoas, em especial, aqueles que comumente são chamados de letrados. O domínio das tecnologias não indígenas parece que não vem agradando a muitos, já que, desmonta o estereótipo do índio ‘mateiro’, que vive na natureza, com as ‘vergonhas’ de fora.
Para muitos o lugar de índio é na floresta e é inconcebível ver um indígena com um terno e gravata, o celular ou um tablet. Muitas pessoas pensam que todos os índios tem uma camionete. Existe a generalização da imagem indígena.
Observa-se esse embate no mundo virtual, onde índios e não índios revelam as facetas do mundo real, sempre expondo um pouco do que pensa o povo brasileiro. Polêmica, a identidade indígena vem sendo tema de discussões que iniciam sempre em comentários que apresentam em muitos casos os pré-conceitos que se formam a respeito dos indígenas viventes no Brasil do século XXI.
Fatos recentes exemplificam minha colocação. Em um artigo escrito por José Ribamar Bessa, a respeito de uma matéria veiculada pelo Jornal o Globo, o professor faz a crítica ao fato do jornal folclorizar o indígena. Postada nas mídias sociais, logo repercute. A quem pense que os indígenas se utilizam da máscara de ser índios para não trabalhar, não pagar impostos, cometer crimes ou mendigar nas ruas das pequenas cidades. Logo também, vem a resposta de índios e não índios. Algumas tentando explicar a situação dos Povos originários do país, suas formas de vidas e até as punições empregadas em casos como os crimes, apontados no texto postado. São mais de 27 comentários a respeito do assunto. “quem disse que indígenas não trabalha? eles não fazem muito desmatamento como os fazendeiros porque é da natureza que tiram o seu sustento, diferente de vocês que derrubam uma área imensa para “produzir” o que? poluição, secar nascentes de rios, jogar venenos na aguá, terra… é isso que você chama de produção?… isso pra mim se chama desrespeito com a natureza…”, argumenta o jovem indígena, que se apropriou do debate e da tecnologia para contestar a opinião.
Dias depois, encontramos um artigo acerca do índio civilizado. “Sexta-feira, quase dez horas da manhã. Ana Maria Braga recebe em seus estúdios globais impecáveis uma turma indígena gorda e ricamente paramentada, nas mãos violões de fabricação cara-pálida. Trazem como curiosidade uma pajé feminina que abençoa Ana Maria em pajelança ao vivo, mas com relógio no pulso para não perder a hora”. Novamente postado, rapidamente vem os comentários e reflexões: … Gostaria de fazer uma observação que minha cara advogada provavelmente se precipitou ao comentar que a entrevista com Ana Maria da “Turma indígena gorda” que te pareceu “mais uma esquete sem propósito, onde ela foi a estrela alienada e dispare da real situação do índio no Brasil”.
Sua convicção está fora da realidade, atrasada de informação, pois só aceitamos aparecer em rede nacional exatamente pra mostrar ao Brasil e ao mundo que nós povos indígenas ainda temos a sabedoria de viver na terra, e somos muito felizes apesar das dificuldades que vivemos, estamos muito ricos espiritualmente e materialmente. O relógio no pulso é pra dizer que gostamos da tecnologia criada pelo homem branco e iremos utilizar com sabedoria. Quanto ao violão do cara pálida, foi o que me inspirou na introdução da cura aos homens sem alma, sem coração e pobres de espírito’. Resposta dada por um dos integrantes do grupo indígena que apareceu no programa da TV Globo e que certamente tem o domínio das mídias sociais e tecnológicas, fazendo uso da sua necessidade de intervir em temas que acabam passando despercebidos na educação do povo Brasileiro.
É necessário uma intervenção não somente com relação aos povos indígena, mas para todas as populações que estão povoando o imaginário dos brasileiros.
É preciso educar para se conhecer o outro, compreender e assimilar o fato de que as culturas não são estáticas e que o Brasil comporta a diversidade cultural.
O debate no espaço virtual é amplo e está lotado de indígenas.
Diante da negação do índio com domínio das tecnologias visualizamos nisso tudo, uma situação interessante, já que ao dominar o ambiente virtual, os indígenas começam a expressar seus pensamentos, modos de vida, sua identidade, para quem quiser (e para quem não quiser) conhecer.
Retirado do blog: Oráculo – Comunicação, Educação e Cultura.

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