domingo, 4 de agosto de 2013

Como montar uma organização ambientalista de sucesso

ALEXANDRE MANSUR/BLOG DO PLANETA

Vale das Pedras, em Santa Catarina (Foto: Divulgação)
A Fundação SOS Mata Atlântica, uma das entidades ambientais mais bem sucedidas do país, está lançando uma série de livros para inspirar novas iniciativas em defesa do meio ambiente. Nos livros, integrantes da fundação contam como montaram a organização, promoveram ações e pensaram estratégias. Mostram tanto o que deu certo quanto o que houve de errado, para estimular quem deseja se aventurar também. O primeiro volume da séria, chamado “25 anos de mobilização”, é escrito pela bióloga Erika Guimarães e pela jornalista Maura Campanili. Para compartilhar um pouco das lições da SOS, entrevistamos Marcia Hirota, é diretora de Gestão do Conhecimento da fundação.
Época: Se você fosse fazer uma ONG ambiental hoje, faria com qual causa?
Marcia Hirota: Voltada para o ambiente urbano, para engajar e envolver mais pessoas em prol da qualidade de vida, de um ambiente mais sadio e sustentável e que também valorize os patrimônios naturais e as tradições culturais. Essa, aliás, é a nova área de atuação da SOS Mata Atlântica, que agora está estruturada em três frentes voltadas para a Floresta, o Mar e o Ambiente Urbano.
Época: O que deve mobilizar a sociedade brasileira para a causa ambiental hoje?
Marcia: Que a luta é não é só pela floresta ou pelos animais, é pelo ambiente em que vivemos, pela nossa integridade, pela saúde e bem-estar, uma vida melhor e com mais qualidade. O ser humano é parte integrante da natureza. Essa é nossa luta.
Época: Hoje é mais fácil criar uma organização ou movimento ambiental do que há 25 anos, quando a SOS Mata Atlântica começou?
Marcia: Sim, com o desenvolvimento tecnológico nas áreas da comunicação e informação, a consolidação do Terceiro Setor e outros fatores, é mais fácil criar uma entidade. Difícil é manter.
Época: Quais são os maiores desafios para manter um movimento desses por tanto tempo? 
Marcia: Pessoas comprometidas, com as quais felizmente pudemos contar. Os movimentos socioambientais são formados por pessoas que trazem paixão, energia, ideias e bons projetos, compromisso, profissionalismo. É muito importante que saibam trabalhar em parceria com seus pares, apoiando-se mutuamente, e com diferentes atores e setores da sociedade. Manter o foco na missão e nos objetivos institucionais é fundamental. Mesmo nos momentos difíceis e nas derrotas, como a alteração para pior do Código Florestal, tentamos manter o foco e a chama do movimento sempre acesa. 
Época: Como a Mata Atlântica evoluiu nesses 25 anos?
Marcia: A Mata Atlântica se tornou Patrimônio Nacional pela Constituição Federal e é hoje o único bioma que possui uma lei específica no Brasil (uma luta que durou 14 anos no Congresso Nacional). É Patrimônio Mundial Natural e Reserva da Biosfera pela UNESCO, e os estudos mostram que é um recordista em biodiversidade. Além disso, abriga as principais nascentes dos rios que abastecem as principais cidades, dentre outros benefícios e serviços ecossistêmicos para mais de 69% da população, ou seja, mais de 131 milhões de habitantes que vivem em 3.284 municípios abrangidos pelo mapa da lei da Mata Atlântica. Infelizmente, é também o bioma dos mais ameaçado de extinção do planeta com processo contemporâneo de desmatamento. Em vez de vermos o desmatamento parar, no último ano, o Atlas da Mata Atlântica mostrou que houve aumento de 33% comparado com o ano anterior, um alerta para a sociedade e para as ONGs que atuam em sua defesa.
Época: Um dos ecossistemas mais ameaçados do país é a floresta com araucária (floresta ombrófila mista), um dos tipos de Mata Atlântica. É preciso criar mais organizações e movimentos para defender a sobrevivência dessa floresta?
Marcia: A situação das florestas com araucária é crítica e é importantíssimo não só criar mais organizações, mas fortalecer o movimento que já existe e criar novas campanhas de mobilização em prol da proteção desta e de outras formações e áreas que estão protegidas pela Lei da Mata Atlântica, pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação e agora, pelo novo Código Florestal. Nosso empenho é para que a legislação ambiental seja cumprida e o poder público atue efetivamente. Também, nosso esforço é pela criação de novas áreas protegidas públicas na Mata Atlântica e marinhas, assim como na forma de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).  

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