Produtores rurais do Acre participam de intercâmbio sobre agrofloresta
Fotos: © WWF-Brasil / Jorge Eduardo Dantas
Por Jorge Eduardo Dantas /www.wwf.org.br
É possível existir produção rural na Amazônia sem queimar ou
derrubar a floresta? Apesar da descrença de muitos, é sim. E, com o
objetivo de comprovar esta tese e contribuir com a sua disseminação, o
WWF-Brasil, em conjunto com várias instituições parceiras, promoveu em
abril uma iniciativa inédita chamada Intercâmbio Agroflorestal Purus-Tarauacá-Envira.
O intercâmbio teve como objetivo levar 22 agricultores e técnicos extensionistas rurais para conhecer experiências bem sucedidas de produção rural no sudoeste da Amazônia – experiências essas que não usam o fogo e nem desmatam a floresta.
Todas as iniciativas visitadas tinham em comum o fato de trabalharem com os Sistemas Agroflorestais (os SAF’s, também conhecidos como agroflorestas). Os SAF’s são sistemas produtivos que buscam a sustentabilidade para a agropecuária em regiões tropicais, valorizando a biodiversidade e diminuindo o uso de insumos externos, especialmente os agrotóxicos e adubos químicos solúveis.
As agroflorestas se caracterizam pela associação de árvores,
arbustos, cultivos agrícolas e a criação de animais de maneira
simultânea ou em intervalos de tempos regulares numa mesma área.
Com a presença de várias espécies diferentes no mesmo perímetro, a agrofloresta reproduz o ecossistema florestal e reduz o dano ambiental às árvores, aos solos, à água e à biodiversidade da região em que é implantado – além de diversificar a produção rural e auxiliar no incremento de renda dos produtores que lidam com ela.
Protegendo florestas
Os participantes do intercâmbio são parceiros com os quais o WWF-Brasil já trabalha nas cidades acrianas de Tarauacá, Manoel Urbano e Feijó. Ali, em conjunto com a emissora de TV inglesa Sky, o WWF desenvolve a iniciativa Protegendo Florestas, cujo intuito é garantir a conservação de 1 milhão de árvores no Acre.
O intercâmbio agroflorestal durou seis dias e passou por nove municípios diferentes em três estados do norte do Brasil – Tarauacá, Manoel Urbano, Feijó, Rio Branco, Porto Acre, Sena Madureira e Senador Guiomar, no Acre; Boca do Acre, no Amazonas; e Porto Velho, em Rondônia.
No total, foram percorridos cerca de 1,2 mil quilômetros: via barco, subindo os rios Iaco e Purus; e de ônibus, percorrendo trechos da BR-317, que liga a região sudoeste da Amazônia aos portos do Oceano Pacífico no Peru.
Itinerário
Ao longo da expedição, os intercambistas conheceram experiências de manejo de cacau dentro de uma Unidade de Conservação, na Reserva Extrativista (Resex) Arapixi; visitaram as agroflorestas existentes na Terra Indígena Apurinã Kamicuã; e conheceram o beneficiamento e comercialização de produtos florestais da Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar). Todas essas iniciativas estão situadas no município de Boca do Acre, no Amazonas.
O itinerário do intercâmbio contou também com visitas às agroflorestas e aos roçados sem fogo do Grupo de Agricultores Ecológicos do Humaitá (Gaeh), situado em Porto Acre (AC); e às agroflorestas e agroindústrias comunitárias do projeto Reca- Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado, no distrito de Nova Califórnia, em Porto Velho (RO).
Experiência “histórica”
O agricultor e pescador Geraldo Bispo de Almeida, 65, disse que a experiência do intercâmbio é “histórica” para os produtores rurais de Feijó. “O intercâmbio foi muito bem organizado e tivemos várias boas experiências no campo. Visitamos iniciativas muito interessantes e conhecemos pessoas trabalhadoras, organizadas e de bem. Fiquei muito satisfeito com o que vi”, disse.
“Seu Geraldo”, como é conhecido em Feijó, participa do projeto
desenvolvido pelo WWF-Brasil naquele município, cujo objetivo é garantir
o manejo adequado do pirarucu nos lagos da região.
A visita à Terra Indígena Apurinã chamou a atenção do produtor José Francisco Pereira de Lima: “Eu mesmo achava que não era possível reflorestar uma área de pasto dessas como eu vi aqui. Agora no lugar do capim tem todas as frutas e árvores nativas perto da comunidade. Estão todos de parabéns pelo trabalho”, declarou.
Segundo o analista de conservação do WWF-Brasil Flávio Quental, a troca de saberes e experiências é muito importante para as famílias envolvidas na iniciativa Protegendo Florestas.
“Essas famílias estão envolvidas numa transição agroecológica que está em curso nas cidades de Manoel Urbano, Feijó e Tarauacá. Certamente, cada um dos participantes vai fazer a diferença no trabalho dentro de sua propriedade, mostrando que é possível produzir bem, conservando os recursos naturais e obtendo uma boa renda, para o sustento das famílias com dignidade”, explicou o especialista.
Flávio disse ainda que, por meio de trabalhos como este
desenvolvido pelo WWF-Brasil, é possível reincorporar áreas abandonadas
ao sistema produtivo familiar e diminuir a pressão pelo desmatamento de
novas áreas de floresta.
Até o fim de 2016, o WWF e a Sky vão promover mais outro cinco intercâmbios similares a este.
O intercâmbio teve o apoio das seguintes instituições: Cooperar; Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); do Gaeh; da Associação Indígena Popunkare Kamicuã; da Ekoar Assessoria e Consultoria; do projeto Reca; do Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre (Pesacre) e do Governo do Estado do Acre.
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