sábado, 14 de junho de 2014

Produtores rurais conhecem agrofloresta indígena em Boca do Acre (AM)

FonteJorge Eduardo Dantas/WWF Brasil

No centro, de verde, o cacique Francisco Alves da Silva Apurinã, conhecido como “Umanary”, mostra um trecho da agrofloresta aos intercambista
Boca do Acre (AM) - O WWF-Brasil acredita que a troca de experiências e a diversidade de conhecimentos é uma das mais importantes estratégias de disseminação de práticas agrícolas responsáveis.

Por isso, durante o Intercâmbio Agroflorestal Purus-Tarauacá-Envira, um grupo de produtores e técnicos extensionistas rurais do Acre foram levados à Terra Indígena Kamicuã, no município de Boca do Acre, no Amazonas, para trocar experiências e discutir estratégias de produção rural que não desmatem nem queimem a floresta.
 
A Terra Indígena Kamicuã, situada às margens do rio Purus e distante cerca de dez minutos da pequena cidade amazonense, foi homologada em 1985. Ela possui 58 mil hectares e 558 pessoas vivendo em seu interior, divididas em 64 famílias. Todos são da etnia Apurinã.
Naquela localidade, os indígenas vivem da produção agrícola, do extrativismo e da venda de artesanato. Também são fonte de renda o salário de professores, dos agentes comunitários de saúde e aposentadorias, no caso dos indivíduos mais velhos.

Mais de uma década

Na primeira década após o ano 2000, a comunidade passou por um processo de formação junto a técnicos da Universidade Federal do Acre (Ufac), com o objetivo de estimular o uso de agroflorestas naquela localidade. Cará, abacaxi e banana foram algumas das culturas trabalhadas na ocasião.

Sem o uso do fogo e sem desmate, pouco a pouco as colheitas foram ficando mais diversificadas e mais rentáveis – hoje, a agrofloresta Apurinã é tida como um exemplo de como os sistemas agroflorestais podem funcionar bem em Terras Indígenas da Amazônia.
Dia cheio 

Durante a visita, os intercambistas conheceram as agroflorestas mantidas pela comunidade há mais de uma década, assim como plantios mais jovens, que tem diferentes arranjos e combinações de espécies.
Visitaram ainda um viveiro de mudas comunitário e a nascente principal da aldeia, que fornece a água utilizada naquela comunidade. Por meio de técnicas de agrofloresta, este curso d’água foi restaurado há 14 anos e hoje conta com frondosas árvores em suas adjacências, como buriti e açaí.

A troca de experiências contou também com um almoço, preparado pelos indígenas; uma roda de conversa em que os participantes trocaram impressões sobre o encontro; uma sessão de pintura corporal, em que os agricultores receberam pinturas indígenas feitas de jenipapo; e um momento de encerramento que contou com plantação de mudas e cantos e danças tradicionais do povo Apurinã.
Troca de saberes

“Queremos, daqui a alguns anos, olhar para aquele terreno plantado e lembrar deste dia, lembrar que vocês estiveram aqui”, disse um dos facilitadores do evento, o agente agroflorestal indígena Gercínio Vieira Apurinã, conhecido como “Sukunaky”.
O cacique Francisco Alves da Silva Apurinã, cujo nome indígena é “Umanary”, gostou bastante da visita. “É sempre importante trocar experiências e saberes. Gostei muito da presença de todos aqui. Precisamos cuidar das nossas terras, da nossa água, da nossa floresta, e este trabalho aqui na aldeia Kamicuã é um exemplo disso”, informou. 

Francisco disse ainda ver ‘outro modo’ no trato que os indígenas e ribeirinhos tem com os recursos naturais. “Nós agricultores, ribeirinhos, indígenas, nós cuidamos, nós preservamos, nós temos outra maneira de lidar com a terra. Nós respeitamos a floresta e os outros povos, somos ricos de experiência e acho que deveríamos compartilhá-la”, disse o cacique.
Enorme aprendizado

Um dos intercambistas, o agricultor Denis Bruno, ficou impressionado com o que viu na Terra Indígena. “O sistema de agroflorestas daqui é incrível. Trabalho com muitas famílias e tenho meus plantios em Manoel Urbano (cidade do Acre), mas desse jeito que conhecemos nunca tinha visto. Vimos o pequi, uxi, castanha e muitas frutas que não temos lá. Foi um enorme aprendizado que vamos levar para nossa região”, disse.

Denis também é técnico extensionista da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), órgão vinculado ao Governo do Acre e parceiro do WWF-Brasil em várias iniciativas desenvolvidas naquele estado.
O analista de conservação do WWF-Brasil e coordenador do intercâmbio, Flávio Quental, lembrou a importância de se trabalhar o conhecimento técnico com as práticas mais tradicionais, já encontradas nas comunidades amazônicas.
“O projeto da Ufac realizado nesta área indígena terminou há anos. No entanto, todos viram que as famílias continuam plantando, manejando e ampliando os cultivos, porque este processo foi e continua sendo importante para esta comunidade”, declarou o especialista.

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