domingo, 28 de dezembro de 2008

MT: índios protestam contra hidrelétricas

27/12/08 - 23h50 - Atualizado em 27/12/08 - 23h50

Eles atacaram usinas e paralisaram obras. Impasse permanece entre empresários, Ministério Público, Secretaria de Meio Ambiente e Funai.










Índios contrários à construção de uma série de pequenas hidrelétricas na bacia do Rio Juruêna, em Mato Grosso, destruíram o canteiro de obras e tocaram fogo em tudo o que encontraram pela frente. Foi o momento mais crítico da polêmica criada pela construção das usinas.

Os extintores não foram suficientes para evitar a destruição. Os índios tocaram fogo em 12 caminhões, cada um avaliado em R$ 120 mil.

Caminhonetes viraram sucata. Eles invadiram o canteiro de obras, atacaram os alojamentos e o escritório. Nada se salvou no ambulatório, nem a ambulância que estava na garagem.

A rede de energia também foi danificada. Segundo o técnico em escavações Deusdélio do Carmo, que testemunhou o vandalismo, 400 operários foram expulsos pelos guerreiros. “Eles enrolavam tocha na flecha e atiravam. Nas cantinas, eles cortavam a mangueira do gás e atiravam a flecha. Um terror, eu pensava que estava num filme”.

Ele disse que os índios saquearam o acampamento. “Levaram computador, notebook, máquina de xérox, roupa, calçado, malas, levaram todos os nossos pertences”.

Depois do ataque, as obras foram paralisadas em duas usinas. “Os índios são tutelados pela Funai, que tinha a obrigação de manter essa tutela. É como um pai de família que é obrigado a cuidar do seu filho”, afirmou Mauro Boschiero, diretor das usinas.

Seguranças passaram a controlar os principais acessos. A usina atacada fica na bacia do Rio Juruêna, sudoeste de Mato Grosso, onde outras sete hidrelétricas foram autorizadas pelo governo do estado.

São investimentos de R$ 1 bilhão. Em todo o estado, são 140 usinas projetadas. Outras também enfrentam resistência dos índios.

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso, as obras estão sendo construídas fora de áreas indígenas. Uma usina, por exemplo, fica a 30 quilômetros do início da reserva mais próxima. Mesmo assim, os índios exigem um estudo mais detalhado sobre os impactos ambientais na região, e cobram também indenizações financeiras.

A tribo que invadiu a hidrelétrica teme que a pesca diminua. O índio faz novas ameaças caso a obra na usina invadida seja retomada.

O clima é de impasse também entre as tribos. Pelo menos duas das cinco que vivem na região são favoráveis às obras. “Entramos num acordo de R$ 6 milhões. Somos favoráveis à retomada das obras. Queremos que nos paguem esses R$ 6 milhões para continuarem”, disse um índio.

Os empresários chegaram a concordar com o pagamento, mas o Ministério Público foi contra. Em razão do clima de tensão, a Funai decidiu pedir novos estudos.

“Os índios estão dizendo que isso está causando impacto. Se está causando impacto, nós temos que cumprir a nossa atribuição constitucional que é de proteção dos índios. Então nós precisamos ter um estudo mais detalhado para saber se realmente está causando impacto ou não”, explicou Márcio Meira, presidente da Funai.

A Secretaria de Meio Ambiente disse que não há necessidade de novas pesquisas de impacto ambiental e afirma que os índios não serão prejudicados.

“Os estudos que foram feitos somam mais de 14 mil horas de estudos naquela região. Não haverá impacto significativo. A água vai diminuir momentaneamente sua velocidade e logo após continua o seu fluxo normal na calha do rio”, afirmou Salatiel Alves Araújo, secretário-adjunto de Meio Ambiente (MT).

O Ministério Público Federal ingressou com duas ações na Justiça para embargar as obras. “O Ministério Público está pleiteando junto ao Poder Judiciário a nulidade das obras, dos entendimentos, das licenças concedidas, porque não obedeceram ao rito estabelecido na Constituição e nas leis do país”, declarou Mário Lúcio Avelar, procurador da República.

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