Em defesa dos povos indígenas
Metodista, ONG Nossa Tribo e Projeto Criança Esperança/ Unesco produzem vídeo educativo para índios
Crianças indígenas ...
Elas têm de um a seis anos, e dependem de amparo social e governamental que quase nunca chega. Conhecendo esta realidade em suas andanças pelo País, e registrando o cotidiano das tribos indígenas, a fotógrafa Rosa Gauditano foi tocada quando viu um indiozinho de apenas dois anos morrer na sua frente. “Decidi que deveria fazer alguma coisa e criei a ONG Nossa Tribo que por meio do Projeto Nutrição Infantil para o Povo Xavante deu atendimento de saúde às crianças e resgatou a comida tradicional da comunidade Wederã, no Mato Grosso. “Pensamos em como poderíamos irradiar esse trabalho a outras aldeias e procuramos a Metodista para ser nossa parceira na produção, gravação, e edição do vídeo educativo “Saúde e Alimentação do Povo Xavante”. O projeto deu tão certo que ganhou corpo e conquistou o apoio do Criança Esperança/ UNESCO.
A mortalidade infantil da aldeia Wederã (terra indígena de Pimentel Barbosa – MT) e de outras tribos indígenas é resultado da mudança de hábitos absorvida pelo contato com o branco e pela falta de políticas de amparo à população indígena.
No fim de dezembro, segundo a Folha de São Paulo, havia 15 crianças com desnutrição severa na reserva indígena habitada por guaranis e caiuás. A mídia, recentemente, noticiou três casos de morte de crianças indígenas vítimas de desnutrição, uma delas com dez meses de idade da aldeia Bororó, em Dourados (MS).
“Eles passaram a comer grandes quantidades de arroz, sem saber seu valor nutricional”, explica Rosa. Segundo ela, foi detectada falta de proteínas e outras vitaminas, em uma triagem inicial”. O trabalho passa também por resgatar as “raízes” de hábitos alimentares saudáveis.
No vídeo, os anciãos falam e orientam os mais jovens a cultivar alimentos esquecidos. Da Metodista, Leandro Miguel Angelon Arouca, na ocasião, aluno do 8º semestre de Rádio e TV ficou durante dez dias na aldeia, ensinando os jovens índios Joni Xavante e Leandro Parinã a a manusear uma câmara de vídeo. “Foi uma experiência inesquecível. Pude transmitir noções de enquadramento, fotografia e toda parte técnica. Foi a melhor viagem que já fiz”, destacou Leandro. Segundo ele, os índios foram muito cordiais. “Ensinei e fui ensinado. Os índios prezam muito pelos valores. Os indiozinhos, por exemplo, respeitam e obedecem aos mais velhos”.
MORTALIDADE INFANTIL
A cada viagem, a ONG Nossa Tribo leva uma equipe com três nutricionistas, um médico, um engenheiro florestal que os orienta a reforçar as roças e “quintais” com alimentos tradicionais, como os frutos do cerrado e batatas. Rosa, que já esteve em sete reservas do Mato Grosso, conta que os índios eram nômades e faziam seu roteiro em função dos insumos da época. “Ao longo do tempo, os costumes de caça e consumo de frutas ficaram para trás”. Os nutricionistas fizeram uma pesquisa e constataram que eles estavam consumindo muito sal e gordura. “O exame de hemograma revelou que 54% das crianças estavam anêmicas”. Além da orientação nutricional, as mães dos bebês participam de oficinas e palestras educativas.
Durante um ano e meio, os índios registraram sob a orientação de alunos e professores da Metodista, imagens da tribo para a produção do vídeo. “Seis índios se envolveram diretamente na produção, nas filmagens, edição e nos “offs”. “O cacique Cipasse gravou o off, junto à índia Andréa, que emprestou sua voz aos trechos que se referem ao preparo e cuidado os alimentos”, revela o prof. Marcio Kowalski, produtor executivo do estúdio de Rádio e TV”.
Para o jovem índio Jony Tsenhinhedewê, esse trabalho tem grande valor. “Nosso povo Xavante se acostumou aos hábitos de fora. Os mais velhos nos falavam sobre a importância de antigos costumes. O vídeo registra as orientações dos mais velhos, o que é bom para a saúde e para as crianças”, destaca. Andréa, também presente na ilha de edição, conta satisfeita que as crianças podem ser preservadas a partir deste trabalho e as mães poderão cuidar melhor de seus filhos.
REGISTRO HISTÓRICO
O vídeo que contém todo o trabalho, fruto da parceira ONG Nossa Tribo e Metodista, está sendo editado e narrado na língua nativa: o Xavante. “Estamos produzindo a legenda em português, e os próprios índios estão nos ajudando na tradução”, explica o prof. Márcio Antônio Kowalski. O trabalho também será transformado em cartilha, (nas duas Línguas) a ser distribuída em outras aldeias. Segundo ele, esta iniciativa é inédita pois não existe registro da língua Xavante em lugar algum e esse trabalho pode se tornar uma referência para os lingüistas. “A agência de Rádio e TV da Metodista, por meio dos alunos, orientou na produção do vídeo, contudo a visão que prevalece é a dos índios, eles que escolheram o conteúdo e as imagens”.
Saúde e Alimentação do Povo Xavante não é o primeiro filme sobre o povo indígena produzido em parceria com a Metodista. Darini, produzido em 2005, foi selecionado pela 29º Mostra BR Internacional de Cinema de São Paulo, realizada em outubro de 2005 e para o VIII Festival Internacional de Cine e Vídeo de los Pueblos Indígenas – Oaxaca, México, em abril de 2006.

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