quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Índia paresi é morta a tiros em Mato Grosso

Ela pescava com 13 parentes. O marido, Valdenir de Amorim, também foi atingido e está em estado grave.

M
ÁRIO HASHIMOTO (*)

CUIABÁ, MT – Nem bem começou o ano e a perseguição e morte aos povos indígenas continua. Na noite de sexta-feira, 9, por volta das 22h, a líder indígena paresi Valmireide Zoromará, 42 anos, foi assassinada a tiros perto de Nova Marilândia, região de Diamantino 209 quilômetros ao médio norte de Cuiabá. Ela pescava junto com outras 13 pessoas, todas da família. Seu marido, Valdenir Xavier de Amorim está em estado grave, na UTI de num hospital de Tangará da Serra.

Valmireide, a primeira vítima indígena em 2009 /SINA

Segundo seus filhos Kleberson e Kelly Cristina Zoromará, eles estavam pescando em uma represa particular do córrego Cágado, pertecente a Sebastião de Assis, quando foram alvejados por um funcionário da fazenda que gritava: “Seus ladrões de peixes”. Todos saíram correndo e se esconderam, mas Valdenir e Valmireide foram atingidos. "Quando retornamos ao local, nossa mãe estava morta e meu pai suspirando", disseram os filhos.


Inquérito federal

Para o técnico de indigenismo da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Tangará da Serra, Martins Toledo de Melo, não há vestígios na área de criação de peixes e a polícia civil já iniciou o inquérito. Por se tratar de questão federal, a Funai, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal deverão assumir o caso.

O fazendeiro Sebastião de Assis, junto com outras pessoas, ficaram reféns na aldeia paresi em janeiro de 1992, por invasão, mas segundo Martins esse fato não deve ter correlação com o crime. Perguntado sobre o clima na aldeia, o técnico disse que “normalmente, quando um paresi sofre morte natural, isso por si só gera comoção na comunidade, agora, imagine quando se é assassinado por um não-índio".

Demarcação

A área em que se encontram as famílias foi doada ao grupo Zoromará na época pelo marechal Cândido Rondon, e a demarcação da reserva está em fase estudos, devendo ser homologada ainda este ano, segundo o indigenista. Os paresi têm no seu mito de origem a representação da sua identidade e da sua territorialidade.

Na audiência pública promovida para o debate do Zoneamento Socioecônomico e Ecológico de Mato Grosso, Kelly Zoromará disse que sua mãe retirou-os da aldeia, levando para Nova Marilândia, porque eram ameaçados de morte, mas que “agora iriam lutar pela terra e só sairiam de lá mortos”. As palavras de Kelly anteviram a noite fatídica de 9 de janeiro de 2009. Num exame preliminar de necrópsia foram encontrados chumbos de calibre 16. A guerreira Valmireide, que atuava principalmente na defesa de sua terra se foi. Que não seja em vão.

(*) É editor da revista alternativa Sina, parceira da Agência Amazônia.


Atualizado em 14/01/2009 10h10m

Presos dois suspeitos de matar índia no interior de MT

Dois homens foram presos por suspeita de envolvimento no assassinato de uma índia pareci no fim de semana em Nova Marilândia (400 quilômetros de Cuiabá). A índia Valmireide Zoromará teria sido baleada quando pescava em uma propriedade particular no município, no sábado. O marido dela Valdenir Xavier de Amorim também foi baleado. Os tiros teriam sido disparados por funcionários da fazenda.

Nesta terça-feira Ismael Rosa Lima (39), que seria gerente da fazenda, foi preso em Nobres por suspeita de envolvimento no caso. No sábado foi preso Célio Rodrigues Alves (32), em Diamantino. De acordo com informações da polícia civil, os suspeitos teriam afirmado que os índios estavam em uma represa, na área particular, e os índios teriam atirado primeiro. Com isso, ainda segundo a versão dos suspeitos, eles revidaram em legítima defesa.

O caso está sendo investigado pelo delegado Daniel Lemes Valente, da Delegacia Municipal de Diamantino. A prisão temporária de Ismael e Célio é válida por 30 dias, podendo ser prorrogada. O delegado afirmou que deve concluir as investigações antes do prazo de vencimento das prisões.(TVCA)


Índios invadem fazenda após morte


Da Reportagem/Diário de Cuiabá

Cerca de 80 índios parecis invadiram ontem a fazenda em Nova Marilândia onde uma liderança da etnia foi assassinada no último final de semana.

Eles pediam a solução para o caso.

Valmireide Zoromará foi morta a tiros, na sexta-feira, quando pescava em um local de criação de peixe em cativeiro. Ela estava

na companhia de mais 13 pessoas. Seu marido Valdemir Xavier deAmorim também foi atingido pelos disparos e está internado em estado grave.

A polícia prendeu dois suspeitos de terem efetuado os disparos. Eles seriam funcionários da fazenda onde o grupo pescava. Temendo por algum revide, os outros funcionários foram retirados do local.

Os filhos de Valmireide contam que um homem chegou gritando. "Seus ladrões de peixe", teria dito, antes de atirar contra o grupo

. Os filhos conseguiram escapar.

A polícia deverá ouvir o dono da fazenda, com quem os índios já teriam tido desentendimento há alguns anos. Valmireide já havia dito que poderia ser assassinada.

O assassinato repercutiu entre grupos defensores

da causa indígena e dos direitos humanos. Segundo o padre Aloir Pacini, ligado à questão indígena, a famlília Zoromorá "tem uma longa e desgastante história de luta pela terra, história essa que perpassa também as trilhas de Rondon".

"Valmireide era uma grande mulher, uma grande guerreira, filha dessa história, herdeira desta trajetória de luta. Ela não temia as ameaças constantes, peitava e enfrentava os desafios, os contrários à demarcação, e foi com esse mesmo peito aberto que teve sua vida ceifada de forma covarde", escreveu o padre em um artigo ontem.


Atualizado as 17h40m - 14/01/2008

Mais dois acusados da morte de líder Paresi são presos
Redação 24HorasNews

O gerente de uma fazenda em Mato Grosso confessou a morte da líder indígena paresi Valmireide Zoromará, 42 anos, assassinada na sexta-feira na fazenda Boa Sorte, em Diamantino (207 km de Cuiabá). Ismael Rosa Lima, 39 anos, está preso.

Dois homens suspeitos do crime foram presos no fim de semana em Nova Marilândia (400 quilômetros de Cuiabá).

A índia e outras 12 pessoas teriam ido até a área da fazenda para pescar. Eles foram atacados por volta das 22h, segundo o delegado da Polícia Civil Daniel Lemos Valente. O marido dela foi ferido e está internado em estado grave. O dono da fazenda alega ter atirado em legítima defesa.

A fazenda está localizada em uma área em processo de demarcação de terra indígena, afirma o representante da Funai em Tangará da Serra, Carlos Bastos.



OEA julgará governo brasileiro pela morte de advogado na Amazônia

Pimenta (c): morto em julho de 1982 no sudoeste do Pará / CPT

MARABÁ, PA – A Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou hoje que o governo brasileiro será julgado pela morte do advogado Gabriel Pimenta. Em 17 de outubro de 2008, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos admitiu o caso Gabriel Sales Pimenta contra o Estado Brasileiro.

O relatório de admissibilidade nº. 73/08 foi o resultado de uma denúncia apresentada pelo Centro pela Justiça e Direito Internacional e pela CPT, da diocese de Marabá, em 8 de novembro de 2006. Os fatos remontam ao ano de 1982, quando o advogado e defensor de direitos humanos Gabriel Sales Pimenta foi vítima de homicídio em Marabá, na região sudoeste do Estado do Pará. O assassinato ocorreu num contexto de violência relacionado com os conflitos decorrentes da luta pelo acesso à terra no Brasil.

Representante legal do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Marabá e sócio fundador da Associação Nacional dos Advogados dos Trabalhadores da Agricultura, Gabriel Sales Pimenta foi o primeiro advogado da história de Marabá a conseguir cassar, no Tribunal de Justiça do Pará, uma liminar “ilegal e abusiva” da Comarca de Marabá que havia permitido a expulsão das 158 famílias das terras de “Pau Seco” e, conseqüentemente, a reintegração de todas elas ao lote.

Após várias ameaças de morte por parte do fazendeiro que se afirmava proprietário de Pau Seco, Gabriel foi assassinado em 18 de julho de 1982. Baseando-se em evidências apuradas, o inquérito policial concluiu que o fazendeiro Manoel Cardoso Neto, o Nelito, foi o mandante do crime, tendo como intermediário José Pereira da Nóbrega, o Marinheiro, e executor, Crescêncio Oliveira de Sousa.

O processo criminal começou sua tramitação em 1983, se arrastou por longos 23 anos na comarca de Marabá. Nenhum dos acusados foi a júri popular. Em 2006, após a prisão de Nelito que estava foragido, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará decretou a extinção do processo em razão de prescrição. O processo se encerrou com o triunfo da impunidade.

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