segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Chineses ilegais entram pela Amazônia, rumo a São Paulo

Segundo a Polícia Federal, imigrantes que entram pelo Acre e por Rondônia são novos e chegam com vontade de trabalhar.

CHICO ARAÚJO e
MONTEZUMA CRUZ
(*)
Ag. Amazônia

Chineses chegam cada vez mais em São Paulo / DESTAK NEWS

BRASÍLIA – Acre e Rondônia já são rotas de entrada ilegal de estrangeiros no País. No ano passado, 48 imigrantes clandestinos foram identificados e detidos em Assis Brasil (AC), na fronteira brasileira com o Peru, e em Guajará-Mirim (RO), na fronteira com a Bolívia. Destes, 41 eram chineses. Peruanos e bolivianos costumam usar parte dessas rotas, apurou o Departamento de Polícia Federal.

Em Porto Velho, o Ministério Público Federal (MPF) apresentou esta semana à Justiça denúncia contra Nilcelia Paulina Vieira Gonçalves, moradora em Ji-Paraná (107 mil habitantes), a 367 quilômetros de Porto Velho, por "aliciamento, introdução e ocultação" de chineses clandestinos no País.

Nilcelia Gonçalves foi presa em flagrante no dia de natal, num quarto do Hotel Paraná, em Vilhena (70 mil habitantes), a 700 Km da capital rondoniense, na divisa com o Estado de Mato Grosso, quando arrumava os pertences de Huijuan Zhou, Zhenlin Gong, Junyao Xiao e Weixin Chen. Ela explicou à polícia que os chineses já haviam sido levados por um taxista até Pimenta Bueno (33 mil habitantes), a cerca de 500 Km da capital.

Com as informações, o taxista e os chineses foram localizados pela polícia e levados à PF, onde já havia notificação determinando que eles deixassem o País no prazo de três dias, contados de 23 de dezembro de 2008. Eles entraram clandestinamente em território brasileiro e iriam trabalhar em São Paulo. Há casos em que chineses usam documentação irregular de bolivianos como se fossem japoneses naturalizados no país vizinho.

Amazonas e Rondônia

Vilhena, em Rondônia: passagem de chineses ilegais / SKYSCRAPERCITY

Se condenada, a agenciadora pode cumprir penas que somadas chegam a seis anos de prisão. Em outubro do ano passado, a Polícia Federal identificou uma rota de imigração ilegal de chineses que passa pelo Estado do Acre, com destino a São Paulo.

A não-exigência do visto no Equador é o motivo maior que leva a essa circunstância. De acordo com o delegado do setor de Imigração da PF no Acre, Dário Márcio Sá Leitão, esses casos não ocorrem somente no Acre, mas também no Amazonas e em Rondônia. “O Equador passou a não exigir os vistos para diversos países, entre eles, a China, diferente do Brasil, que ordena esses vistos, então muitos chineses estão vindo por meio do Equador”, disse.


Até São Paulo

No interrogatório policial, Nilcelia Gonçalves relatou que tinha a função de retirar os chineses de Vilhena, mas que não iria acompanhá-los até São Paulo. Admitiu, também, já ter levado outros chineses de Porto Velho para Ji-Paraná e Presidente Médici. Um dos estrangeiros aliciados confirmou que ele e os outros chineses iram a São Paulo para trabalhar.

O MPF tem apresentado várias denúncias sobre tráfico internacional de seres humanos e acredita que exista uma quadrilha especializada no aliciamento de chineses para trabalhar no país. “Observamos que esses estrangeiros clandestinos entram no Brasil pela Bolívia”, afirmou o procurador da República Heitor Soares.

A PF constatou que esses imigrantes, em média, têm 30 anos de idade, não falam português e vêm com pouco dinheiro na esperança de uma vida melhor. Durante o trajeto, eles são guiados por um coiote que os abandona na metade do caminho. “Os coiotes os deixam em hotéis e vão embora com medo de serem presos. Muitos ficam somente com um recado inscrito em papel para alguma urgência”, comentou o PF Dário Leitão.


Da Malásia ao Camboja e
de lá para o Equador e Peru

PF patrulha a fronteira com a Bolívia, em Brasiléia, no Acre / O ALTO ACRE


● Para chegar ao Brasil, chineses seguem para a Malásia, passam pelo Camboja e chegam até Equador. De lá, seguem para o Peru ou Bolívia e entram no Brasil pelo município de Assis Brasil, de onde alcançam a BR-317, até Rio Branco.

● Em seguida, eles entram na rodovia BR-364 (rodovia Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco), passam por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e interior do Estado de São Paulo, para chegar à capital paulista.

● Também é grande a imigração de bolivianos e peruanos. Até o final de 2008 não havia inquérito aberto em especial para os casos constatados. No Presídio Francisco de Oliveira Conde, em Rio Branco, três chineses aguardam ordem para serem deportados.

● A Polícia Rodoviária Federal intensifica operações na rodovia BR-364, que liga Mato Grosso à Amazônia Ocidental.

● Para entrar no Brasil, todo cidadão estrangeiro necessita de passaporte e visto e deve passar pelo setor de imigração da PF. Os que ficam ilegalmente correm o risco de receber notificações e multa.

● Pessoas que ocultam os estrangeiros clandestinos estão praticando crime previsto na Legislação 3.815/80, do Estatuto do Estrangeiro.

● Vistos de turistas possuem um prazo de 90 dias e podem ser prorrogados por mais 90 no ano, ou seja, em um ano, o estrangeiro pode passar 180 dias no Brasil.

(*) Com informações da assessoria de imprensa do MPF em Porto Velho (RO) e de O Alto Acre.

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