Plante que o João garante!
Amado de Olveira Filho
Lá se vão quase 25 anos que o Presidente João Figueiredo anunciava um Programa de incentivo à agricultura. Idealizado pelo Ministro do Planejamento Antônio Delfim Netto, nasceu com o interessante slogan “Plante que o João Garante”, algo bastante populista. Quebrou grande parte dos médios e pequenos produtores, mas efetivamente foi dada a largada para o desenvolvimento da agricultura brasileira.
No Estado de Mato Grosso, na época, as condições de infra-estrutura de armazenagem e transporte eram piores que as de hoje, mas a produção era infinitamente inferior. Era comum depararmos com produtos armazenados a céu aberto, especialmente arroz e milho. Isto porque o Governo Federal não honrou compromissos com o segmento armazenista. Assim, produzimos e vimos muitos produtos se perderem ao relento, sob sol e chuva.
Na década de 90 o problema continuou. Quem não se lembra de Fernando Collor subindo em montanhas de arroz perdendo em Mato Grosso, durante sua campanha eleitoral? Ele ganhou as eleições, mas nada de concreto fora feito, a não ser a fusão da CIBRAZEM com a COBAL não concretizada até hoje.
Esta semana circulou o Boletim de Grãos nº. 61 do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), com informações atuais atinentes a colheita do milho. É inacreditável, mas num trecho do texto de abertura do boletim se lê: “Em muitas cidades do Estado, especialmente na região do Médio-Norte, já são comuns reportes do cereal sendo armazenado a “céu aberto”, reflexo da ausência de escoamento da safra”. Notem que a colheita está em andamento!
Estranhamente nos últimos três anos nosso Estado tem aumentado sua capacidade estática de armazenamento em 1,0 milhão de toneladas/ano. Chegamos ao ano de 2009 com uma capacidade estática de armazenagem na ordem de 24,0 milhões de toneladas para fazer frente a uma produção total de 26,0 milhões de toneladas. Mas a verdade é outra, divulgam capacidade estática, porém, escondem que aproximadamente 20,0% deste total estão descredenciados, ou seja, não podem operar com repartições públicas do Governo Federal, além de outros 15% de tecnologia antiga que não armazenam a granel.
As conseqüências para os produtores são danosas, especialmente no quesito renda. No município de Sorriso, segundo o IMEA, os custos de produção beiram os R$ 1.089,00 por hectare para uma produção com uso de alta tecnologia de 80 sacas. Assim cada saca teria que ser vendida por R$ 13,61 para empatar custos com valor bruto da produção. A realidade é outra, já que no mesmo município cada saca está cotada a R$ 11,00.
O cultivo do milho é uma necessidade. Estamos falando de uma extraordinária fonte de proteína bruta que pode ser consumida como alimento humano ou sob a forma de ovo, frango, carne suína, carne bovina, etc. Ou seja, estamos armazenando a céu aberto comida que não temos para onde levar. Um disparate para um País cujo Presidente viaja o mundo empunhando a bandeira de fome zero no Brasil e no mundo.
Fica claro então para aqueles que não acompanham a produção de alimentos no Brasil, especialmente, com referência à segurança alimentar, que alguém deixou de fazer sua parte. Décadas após décadas vemos as constantes denúncias de falta de políticas agrícolas que direcionem recursos para custeio e investimentos, para que não se jogue fora alimentos e proteínas, num País ainda de famintos.
É simples plantar, colher e armazenar para depois transportar, processar e distribuir alimentos para a população, sob a forma transferência direta através do fome zero ou de redes de supermercados e fast-food, mas sem a necessária reorganização das cadeias vamos continuar lendo boletins, artigos e notícias de alimentos sendo estragados nos armazenamentos a céu aberto.
Uma vergonha que continua acontecendo no Brasil que parece se orgulhar dos deitados em berço esplêndido do poder, proporcionado pela República Federativa do Brasil.
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