terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tias se revezam no hospital para acompanhar bebê baleada

Por Carolina Lauriano
Edição: Meider Leister


Tiro que matou a mãe atingiu Kaiane no braço.
Delegado aguarda laudos para saber se bala partiu de policiais.

As duas irmãs da dona de casa Ana Cristina Costa do Nascimento , de 24 anos, morta por bala perdida no domingo (25), na Favela Kelson's, na Penha, estão se revezando para acompanhar a sobrinha Kaiane, de 11 meses. O tiro que matou a mãe feriu o bebê no braço. A informação é do avô da criança, José Maria do Nascimento. Segundo ele, o desespero tomou conta da família.

Muito abalado, o pai de Ana Cristina disse, na manhã desta terça (26), que a mulher dele, dona Maria da Conceição, está passando mal e com pressão alta desde segunda-feira (26), quando o corpo da filha foi enterrado.

Os pais de Ana Cristina souberam da notícia pelo rádio, na madrugada de segunda, por volta das 2h da manhã. Ela era a filha do meio.

“Fiquei doido quando ouvi o nome da minha filha no rádio. Sinto o que todos os pais sente, é a dor de pai e de mãe”, disse ele.

Segundo inforamação da Secretaria estadual de Saúde, o quadro de saúde da menina de 11 meses é estável.

Investigação

O delegado que investiga o crime, Felipe Ettore, da 22ª DP (Penha), informou que aguarda os laudos o Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICE), para saber o calibre da arma. O prazo é de 10 a 15 dias. Caso a bala não tenha sido retida, o delegado disse que há outras formas de se chegar à arma do crime.

Testemunhas afirmam que a bala partiu dos policias. Já a Polícia Militar afirma que a viatura do batalhão que fazia o patrulhamento no local foi alvejada e os policias não revidaram.

Ettore disse ainda que vai ouvir as testemunhas que estavam no local e eram parentes de Ana Cristina, como o primo e o marido. Mas, segundo o delegado, ele aguarda a família se restabelecer do trauma: “Os laudos são mais importantes. Não preciso fazer eles reverem essa cena trágica nesse momento”.

O delegado disse que está investigando as duas possibilidades: de o tiro que matou Ana Cristina e feriu a filha dela ter partido dos policiais ou dos criminosos.

Enterro

O corpo de Ana Cristina foi enterrado na tarde de segunda-feira (26), no Cemitério de Irajá. A bala atingiu as costas da dona de casa, saiu pelo peito e acertou o braço de um bebê de 11 meses, que estava no colo da mãe.

O enterro de Ana Cristina reuniu mais de cem pessoas. Com pedidos de paz e cartazes de protestos, parentes e amigos fizeram um pedido ao lado do caixão com o corpo da dona de casa. Além do bebê de 11 meses, Ana Cristina deixa dois outros filhos de 6 e 3 anos, respectivamente.

Também na tarde de segunda, moradores queimaram pneus em protesto contra a morte a dona de casa, no acesso à Favela Kelson's. Policiais militares voltaram para o local para liberar o trânsito. Um carro blindado foi usado. Segundo a Polícia Militar, o veículo foi usado para proteger as equipes.

Depois da manifestação, a Polícia Civil fez uma perícia no local do crime. Os PMs que faziam o patrulhamento no momento do tiroteio acompanharam o trabalho.

Marido acusa policiais

Na manhã de segunda-feira, o marido de Ana Cristina afirmou que os disparos que mataram a sua mulher e feriram sua filha vieram de policiais. “A polícia, quando foi por volta de umas 22h30, a polícia entrou, o poste estava claro, tinha luz, dava pra eles verem que tinha uma família seguindo pra ir embora pra sua casa e eles entraram atirando”, disse o marido da vítima que não quis se identificar.

O porta-voz da Polícia Militar, capitão Ivan Blaz, reafirmou, também na segunda, que policiais do 16º BPM faziam patrulhamento na região na noite de domingo quando a viatura foi alvejada por traficantes. Ele disse que os policiais não revidaram, porque havia muitos pedestres na rua, no momento.

Blaz disse ainda que a PM lamenta a morte da vítima e que as armas dos policias já foram disponibilizadas para a perícia, para colaborar com a apuração dos fatos. A PM informou também que ajudou os feridos.

Como foi o crime

O crime aconteceu quando Ana Cristina e mais seis pessoas – entre elas, o marido e mais dois filhos - passavam pela Rua Marcílio Dias, em direção à Avenida Brasil e vários disparos foram feitos na noite de domingo.

De acordo com parentes das vítimas, por volta das 22h de domingo, a vítima, que morava em Vista Alegre, no subúrbio, saía da favela com a família. Segundo eles, ela tinha ido visitar a irmã, que mora na Favela Kelsons, e seguia para um ponto de ônibus na Avenida Brasil, quando policiais em quatro patrulhas do 16º BPM (Olaria), entraram atirando na favela.

Eles informaram ainda que outras pessoas do grupo não foram atingidas pelas balas porque conseguiram se jogar no chão, no momento dos disparos.

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