domingo, 5 de setembro de 2010

Aliados de Lula podem ter três quintos do Senado

Se for eleita, a petista Dilma Rousseff pode começar seu governo com 49 dos 81 senadores, margem que permite a aprovação de emendas constitucionais sem debate com a oposição

Por José Antonio Lima / Época
Arte: Renato Tanigawa
No fim de julho, durante evento em Curitiba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expôs seu rancor com o Senado. Em comício ao lado de sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT), Lula disse que pediria “a Deus para que essa companheira não tenha o Senado” que ele teve, caso Dilma seja eleita. O comentário de Lula era um desabafo contra a Casa na qual enfrentou algumas de suas maiores batalhas e também sua maior derrota política, o fim da CPMF, extinta no fim de 2007. Com a disputa presidencial em um momento favorável – no qual Dilma amplia sua vantagem sobre José Serra (PSDB) sistematicamente – Lula voltou suas forças para a campanha ao Senado. Um levantamento feito por ÉPOCA mostra que, se eleita, são grandes as chances de Dilma ter uma maioria entre os senadores que o atual presidente nunca teve. Dependendo do resultado, Dilma poderia até mesmo aprovar emendas constitucionais sem precisar negociar com a oposição.

Das 81 vagas no Senado, 27 não estão em jogo. Dessas cadeiras, 12 permanecerão com a base governista de Lula e 14 são da oposição, enquanto apenas um, Pedro Simon (PMDB-RS), se declara independente e votou contra e a favor do governo na atual legislatura. Alguns desses senadores estão disputando o governo de seus Estados e podem deixar os cargos. Em geral, serão substituídos por suplentes com a mesma inclinação política, mas na vaga do Rio Grande do Norte a oposição deve perder um voto. A senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) pode ser eleita governadora no primeiro turno e, se deixar o Senado, dará lugar a Garibaldi Alves (PMDB), pai do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), aliado de Lula no Congresso. Assim, cada lado ficaria com 13 vagas. Nas 54 disputas que preencherão o resto do Senado (duas em cada Estado) a disputa é muito favorável ao governo.

Os favoritos

Entre os candidatos que lideram a pesquisa ao Senado, sete são oposicionistas. No grupo há nomes de peso como os de Demóstenes Torres (DEM-GO), do ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), e dos ex-governadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC). O último é filiado ao principal parceiro de campanha do PT, mas chegou a chorar ao defender a candidatura de Serra à Presidência. Uma oitava vaga de oposição seria hoje da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), mas ela pode ser considerada independente pois ao mesmo tempo em que criticava o governo Lula (no primeiro mandato), atacava a oposição. Nos outros 19 Estados, a liderança na corrida pelo Senado é de candidatos que, em sua maioria, recebem apoio de Lula. Os que não estão na mesma chapa do PT tentam ligar sua imagem à do presidente mesmo assim e, tudo leva a crer, vão aderir a um possível governo Dilma.

Esse grupo apoiado por Lula é um tanto heterogêneo. Estão nele petistas antigos, como a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (SP) e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PE); peemedebistas que sustentaram Lula no Congresso, como Romero Jucá (RR), Edson Lobão (MA) e Jader Barbalho (PA); gente que apoiou Lula com algumas restrições, como Cristovam Buarque (PDT-DF); e o “neo-lulista” César Borges (PR-BA). Ele não recebe apoio formal de Lula – que pede voto para Lídice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT) na Bahia – mas em seu programa eleitoral faz questão de alardear sua relação com o presidente. Em 2007, Borges deixou o oposicionista PFL (DEM) e foi para o PR, integrando a base governista.

Em mais da metade dos Estados, a corrida pela segunda vaga do Senado tem um franco favorito. Nesse grupo, nove são governistas – entre eles Valdir Raupp (PMDB-RO) e Renan Calheiros (PMDB-AL) – e cinco são da oposição – como o ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) e Lúcia Vânia (PSDB-GO).

Assim, somando a) o número de senadores que permanecerão no cargo; b) o número de candidatos que lideram a corrida; e c) o número de segundos colocados com vantagem segura, o governo teria 41 vagas no senado contra 25 da oposição e mais dois independentes – Pedro Simon (PMDB-RS) e Heloísa Helena (PSOL-AL). Para chegar aos três quintos do Senado – margem que permite a aprovação de emendas constitucionais na Casa – o “governo Dilma” precisaria de mais 8 cadeiras nas 13 onde a disputa está aberta. E a possibilidade de isso ocorrer é verossímil.

Em dois Estados, o segundo e o terceiro colocados são governistas. São os casos da Bahia – Lídice da Mata e Walter Pinheiro – e do Ceará – Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT). No Mato Grosso do Sul, Dagoberto Nogueira (PDT) tem o apoio de Lula e o terceiro colocado é Waldemir Moka (PMDB). Ele supostamente deveria seguir o governador André Puccinelli (PMDB) no apoio a José Serra, mas Moka tem evitado comentar a aliança com o tucano e tem um passado ligado ao governo – no início do ano, foi escolhido pelo PMDB para presidir a estratégica Comissão do Orçamento da Câmara. Situação parecida vive o Maranhão, um Estado onde as alianças políticas são especialmente complicadas. João Alberto (PMDB), o segundo colocado, tem o aval de Lula. O terceiro colocado é o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), um ex-aliado da família Sarney, atualmente parceira estratégica de Lula. Se eleito, José Reinaldo deve manter a oposição à família no Maranhão e seguir o apoio do PSB ao PT no âmbito federal. O Piauí é o único Estado em que o segundo e o terceiro colocados são oposicionistas. Um é Heráclito Fortes (DEM), umas das principais vozes da oposição ao governo Lula. O outro é Mão Santa (PSC), que ao ser perguntado se votaria em Dilma, respondeu: “Existem três coisas que você só faz uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT”.

Somando mais essas quatro possíveis vagas para o lado do governo e a segunda cadeira do Piauí à oposição, o placar do Senado ficaria em 45 a 26, mais os dois independentes. A decisão sobre a possibilidade de o governo ter três quintos do Senado ficaria para as oito disputas abertas, onde os dois grupos disputam a vaga.

Disputa acirrada

As últimas pesquisas apontam que, em três Estados, a vantagem atualmente é de governistas. Inflado pelo peso de Lula, o cantor Netinho de Paula (PCdoB) passou Orestes Quércia (PMDB), cabo eleitoral de Serra, em São Paulo. No Amazonas, a deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB) tem 0,3 ponto percentual a mais que o atual líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio. Na Paraíba, Vital do Rego Filho, o Vitalzinho (PMDB), também tem mínima vantagem sobre Efraim Moraes (DEM).

A oposição está na dianteira em quatro Estados. No Mato Grosso, Antero Paes de Barros (PSDB) segue à frente de Carlos Abicalil (PT). Em Pernambuco, o segundo colocado é o ex-vice presidente Marco Maciel (DEM). Recentemente, ele foi alvo de ataques de Lula, que faz campanha para o terceiro colocado Armando Monteiro Neto (PTB). “Desde pequeno eu ouço um cidadão aí, que já foi deputado, presidente do Congresso, da Câmara, do Senado, vice-presidente, e me contem o que é que ele trouxe para Pernambuco?”, disse Lula no Recife. Em Roraima e Santa Catarina os tucanos Marluce Pinto e Paulo Bauer vencem, respectivamente, Ângela Portela (PT) e Cláudio Vignatti (PT). No Rio Grande do Sul, a disputa é muito apertada. A jornalista pró-Serra Ana Amélia Lemos (PP) apareceu em primeiro lugar na última pesquisa, deixando a disputa pela segunda vaga entre o ex-governador Germano Rigotto (PMDB), que não declarou apoio, e Paulo Paim (PT).

Na sexta-feira (27), ÉPOCA revelou no blog Com Serra que Lula está empenhado em “tratorar” ou “passar o rodo” no campo adversário sem economia de força ou recursos. Sua atuação, defendendo candidatos governistas ao Senado e atacando a oposição, mostra que durante a campanha ele não é o “Lulinha paz e amor”. Para a oposição, o cenário é de preocupação. No caso de uma virada histórica de José Serra, terá muito trabalho para costurar uma nova base governista. E se Dilma for eleita, ficará acuada no Senado, um dos poucos ambientes políticos em que conseguiu dar trabalho a Lula.

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