segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Viagem de Gabi - Águas Calientes

 Escrito por Gabi em 31/10/2010 às 12h10 - publicado por Kassu em 01/11/2010 às 19h02

Para ir a Machu Picchu a partir de Cusco, contratei um pacote de viagem que incluía transporte de ônibus até Ollantaytambo, de onde peguei o trem até Águas Calientes, povoado próximo do sítio arqueológico. Achei que contratando um pacote turístico a viagem teria menos improvisações, mas eu estava enganada.

Viajar até Ollantaytambo foi um show a parte: a estrada é de mão dupla, descendo a montanha (Machu Pichu está a 2400m de altitude, enquanto Cusco está a 3400m) e, portanto, cheia de curvas. De um lado há o paredão de pedra, do outro, o abismo. Entre a estrada e o abismo há uma faixa de terra bem estreita, onde pastam algumas lhamas, vacas e outros animais. O motorista da van não estava nem aí: em alta velocidade, com a segurança de quem passa lá todos os dias, ia fazendo suas curvas sinuosas, invadindo a pista do sentido contrário em vários trechos. E como ter medo nessas horas não adianta nada, acabei dormindo.

Acordei já em Urubamba, onde algumas pessoas desceram. O lugar ao meu lado ficou livre e um rapaz se mudou para ele. Chama-se Edison e estava indo a San Matias a negócios: precisava fazer reservas de hotel para uma excursão de 51 pessoas que chegaria na cidade 1h da manhã (incrível como as agências de turismo peruanas deixam tudo para a última hora...).

São duas horas de trem de Ollantaytambo a Águas Calientes. O caminho todo é repleto de picos nevados, campos floridos e o rio Urubamba que, naquela região, é conhecido como Bilcanoti. O trilho do trem acompanha o curso do rio. Durante todo o caminho, fui andando pelo vagão, procurando o melhor ângulo para observar a paisagem e tirar fotos.


Vista da janela do trem

Edison mora em Cusco e já morou em Águas Calientes, tem experiência no assunto. Disse que se eu esperasse até ele terminar seus negócios, poderia me levar para conhecer lugares legais. Como eu não tinha o que fazer naquela tarde, aceitei. Saímos "a caminar", seguindo uma estrada de terra que acompanhava o trilho do trem e o curso do rio. Muito bonita, cheia de plantas e animais, com vista para os picos andinos.

No caminho, paramos em um "mariposario" (descobri que mariposa, em espanhol, é borboleta). O funcionário me mostrou ovos, lagartas, casulos e borboletas de vários tipos e tamanhos. Fica bem ao lado do rio e me disseram que foi preciso começar tudo de novo depois da famosa enchente que deixou os turistas presos em Águas Calientes.

Seguimos o passeio. Muitos mochileiros passaram por nós no sentido contrário, pois a estrada em que estávamos liga Águas Calientes a Machu Picchu. Tem gente que opta por seguir a pé, ou é forçado a isso porque perdeu ônibus ou o trem. Chegamos numa porteira onde havia uma placa: "paradero de Mandor". Edison chamou a mulher que morava lá e pediu permissão para entrar em sua propriedade e ir até uma cachoeira. Ela nos deu permissão e não cobrou nada, porque já estava escurecendo e ela disse que conseguiríamos no máximo chegar até a ponte.

A ponte

A trilha era por dentro da mata fechada. Quanto mais adentrávamos, mais ficava escuro, úmido e frio. Passamos por partes de terra, de pedra e cobertura de folhas. Cada pedacinho de trilha tinha características próprias, me pareceu. Tudo ia mudando: os sons, a temperatura, a iluminação, a umidade. Chegamos à ponte de madeira sobre o rio, que não tinha nada em que pudéssemos segurar para atravessá-la. Conta-se apenas com o equilíbrio.

Mais à frente, lá estava a cachoeira, ou "catarata", como dizia Edison. É de tamanho médio, nada impressionante em relação às que vi em Barra do Garças ou na Chapada. A principal diferença é a temperatura: muito fria! Apesar de não ser possível nadar, sente-se o gelado de longe, pelas gotículas que se desprendem na queda d'água. Edison disse que essa água vem do derretimento dos picos nevados.

Enquanto sentíamos a cachoeira, foi escurecendo. A mata na penumbra se torna mais misteriosa, mais fria e úmida. Vi a primeira estrela aparecer no céu: Vênus. Aos poucos as outras foram surgindo, no alto e no chão: vagalumes piscavam aqui e ali. Com o início da noite, tudo vai mudando: uma parte da natureza se recolhe, outra vai acordando. Usamos a lanterna do celular do Edison para iluminar o caminho. Passar pela  ponte com essa luz fraca foi uma experiência interessante.

Catarata muy helada

Para voltar à cidade, poderíamos caminhar cerca de 1h pela estrada, como havíamos feito para chegar no paradero de Mandor. Mas Edison disse que era mais fácil esperar o trem, porque se fizéssemos sinal ele pararia para subirmos, como se fosse um ponto de ônibus. Nunca vi isso na vida rs... Sentamos perto da cerca e ficamos esperando, sabíamos que o trem passaria em cerca de 45 min. Mas poucos minutos depois, ouvi um ruído sobre os trilhos e, ingenuamente, levantei e fiz sinal, achando que fosse o trem. Só dava pra ver a luz dos faróis... A coisa foi se aproximando e diminuindo de velocidade, então vi que definitivamente não era o trem. Era uma espécie de carro sobre trilhos, mas parecia mais um trator. Tinha uma lâmpada giratória no alto, como as viaturas policiais. Dentro da coisa havia dois homens e um menino, e um rádio transmissor que não parava de falar espanhol. Edison perguntou se poderiam nos levar à cidade e eles disseram que sim. Entramos no negócio e em menos de 15 minutos estávamos lá, ainda que eu nem soubesse que veículo era aquele. Depois Edison me explicou que é o carro que passa na frente do trem, verificando se os trilhos estão limpos, removendo galhos, etc. Foi a carona mais estranha que já peguei na vida...

Voltei ao hotel, onde o guia foi me visitar, para explicar como seria a excursão a Machu Picchu. Depois fui jantar, comi "el lomo saltado", prato típico peruano. E fui dormir 9h da noite, muito, muito cansada.

Só eu, mesmo, para ir a Águas Calientes e conhecer águas muy heladas...

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