quarta-feira, 6 de abril de 2011

Falhas geológicas causam terremotos em Mato Grosso

Josana Salles / turmadoepa.com.br

          Nos últimos anos, a humanidade tem assistido, constantemente, a catástrofes naturais provocadas por terremotos em regiões como Haiti, Chile, Itália, México e Japão.

          Lugares que tremem desde que o homem ocupou esses locais e passou a acompanhar os estragos dos abalos sísmicos. Aparentemente, o Brasil parece ter sido abençoado por Deus e livre dos grandes terremotos. Mas a história geológica do país não é bem assim. Nos últimos dez anos, o Laboratório Sismológico da Universidade Federal de

          Brasília (UNB) registrou mais de 5 mil abalos sísmicos no país e o Norte de Mato Grosso, embora tenha ainda uma rede muito pequena de estações sismológicas, é considerado a segunda região brasileira com maior número de sismos.

          O professor Lucas Vieira Barros, mestre em engenharia elétrica, doutor em geologia é o único estudioso dos sismos que ocorrem constantemente na região de Porto dos Gauchos, Tabaporã e Juara. De 1998 até hoje, foram registrados mais de 7 mil sismos nesta região e praticamente todos os dias pode-se verificar através do site do Observatório Sismológico da UNB, registros de pequenos tremores de terra em Porto dos Gauchos.

          Lucas diz que há 55 anos Mato Grosso foi palco do maior terremoto já registrado no Brasil, com magnitude de 6.2 graus na Escala Richter e que pode ter tido seu epicentro na Serra do Tombador. Em fevereiro de 1959 foi sentido um outro grande tremor observado até mesmo em Cuiabá. Em março de 1998, mais um sismo com magnitude de 5.2 graus foi registrado pelo observatório em Porto dos Gauchos. Em 2005, a pacata cidade com 6 mil habitantes assistiu o chão sacudir e muitas casas ficaram rachadas. Magnitude de 5 graus.
          Segundo o estudioso, existem várias hipóteses que podem explicar os tremores de terra na região. "Observamos, por exemplo, que esses tremores maiores sempre ocorrem em épocas chuvosas e existe uma correlação entre terremotos e o nível de água no lençol freático. Essa área fica na junção de dois rios: Batelão e Bocaiúva, bacia do rio Arinos. Porém, os estudos já registraram que ali existe uma falha geológica mapeada com 6 Km de profundidade e 6 Km de extensão", comenta.

          No monitoramento feito pela atual estação sismológica que vem registrando pequenos tremores diários na região de Porto dos Gauchos, verifica-se que os sismos estão se distanciando da estação, instalada a 35 Km de Tabaporã e 70 Km de Porto dos Gauchos. "Isto está sugerindo que a falha existente tem uma dimensão maior que 6 Km e significa que podem ocorrer terremotos com magnitudes maiores. O tamanho do sismo depende sempre do tamanho da falha geológica. No entanto, ela pode ser maior do que 10 Km e somente parte dela estar se movimentando. O fato é que não sabemos ainda o tamanho correto da falha existente nesta região, mas precisamos estudar mais, entender tudo isso", disse. Lucas confessa que pretende vir a Mato Grosso e discutir o assunto com o Governo de Mato Grosso, principalmente com a Defesa Civil.

          Desde 1998, quando começou a estudar o caso de Porto dos Gauchos, Lucas Vieira tem feito palestras para a comunidade de Juara, Tabaporã e Porto dos Gauchos tentando explicar os estudos desenvolvidos. "Temos ainda poucos dados a respeito da sismologia do Norte de Mato Grosso mas os terremotos são imprevisíveis e é preciso tomar certos cuidados", diz.

          Um deles é quanto à construção de barragens de médio e grande porte no Nortão. "Os lagos artificiais induzem sismos de terra. Existem 22 casos registrados no Brasil", comenta. No final deste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEL) vai lançar leilão para a construção de uma usina hidrelétrica na região de Sinop.

          Segundo informou a prefeita de Porto dos Gauchos, Carmem Lima Duarte, moradora da cidade há 32 anos e que teve sua casa rachada no terremoto de 1998, existe uma preocupação dos moradores com os abalos, mas que o assunto nunca foi discutido com instituições estaduais. "Acho necessário mais informações e orientação quanto às construções e para casos de emergência. Não sabemos como agir numa situação mais dificil", disse.

          Brasil
          O Brasil não está imune a pequenos tremores. Alguns deles superaram os 3 graus na Escala Richter, medida sismográfica criada em 1935, nos Estados Unidos, pelo cientista norte-americano Charles Francis Richter (1905-1985) em parceria com o alemão Beno Gutenberg (1889-1960) no Instituto de Tecnologia da Califórnia.

          O terremoto que produziu o tsunami alcançou 9 graus na Escala Richter, o que o coloca entre os maiores terremotos da história, com maior poder de destruição. Como ocorreu no meio do oceano Índico, a devastação acabou sendo uma sequência das ondas que o terremoto provocou, causando a morte de mais de 150 mil pessoas na Indonésia, Sri Lanka, Índia, Tailândia e Malásia.

          O geólogo Lucas Vieira Barros explica que a localização do Brasil é privilegiada, do ponto de vista sismológico, ficando de fora da região propícia a terremotos. "O Brasil está no interior da placa sul-americana, cujos limites estão nos Andes, onde ela se encontra com a placa de Nasca, e no meio do oceano Atlântico, onde se encontra com a placa africana. Mas no meio do Atlântico, as placas estão se afastando uma da outra".

          A grande maioria dos terremotos brasileiros apresenta magnitude inferior a 5 graus na Escala Richter e ocorre mais perto da superfície, numa profundidade inferior a 30 quilômetros. Todavia, isso não descarta a possibilidade de um terremoto de grande magnitude como os ocorridos nos Estados Unidos, no início do século 19, apesar de o país ter um perfil sismológico parecido com o do Brasil. (JS

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