segunda-feira, 25 de abril de 2011

Só dois falam idioma. Estão brigados

Os últimos falantes do ayapaneco não conversam mais e idioma corre o risco de morrer

Estadão


O ayapaneco, uma das 364 variantes linguísticas que existiam no México, corre os risco de morrer. Restam apenas dois habitantes da região de Tabasco (sul do país), último reduto do idioma, que ainda falam a língua. Mas eles estão há anos brigados e se recusam a reatar a amizade. 

 
  Segovia: ‘Língua morre comigo’
Manuel Segovia, de 75 años, e Isidro Velazquez, 69 anos - que vivem a 500 metros de distância um do outro, na cidade de Ayapa -, são as últimas testemunhas da língua indígena, que tem sua origem na cidade de Jalapa de Méndez.


Por séculos, o ayapaneco foi um idioma falado por milhares de pessoas. A língua sobreviveu à conquista dos espanhóis, a guerras, enchentes e pestes, mas poderá não resistir à briga entre Segovia e Velazquez. "Quando eu era jovem, todos falavam ayapaneco. Aos poucos, o idioma foi sumindo e, agora, acho que vai morrer comigo", disse Segovia ao jornal britânico The Guardian.
Sem jamais tocar no nome do desafeto, ele conta que costumava bater papo no idioma com seu irmão, que morreu há dez anos. Segovia continua conversando com a mulher e os filhos, que segundo ele não são bem fluentes em ayapaneco.

Em janeiro, para poder gravar uma conversação no idioma, estudiosos americanos tentaram convencer Velazquez e Segovia a se encontrar. Foi a última vez que se viram. Nenhum foi convencido pelos americanos a expor os motivos da briga que tiveram para chegar a um acordo.

Segundo o Instituto Nacional De Línguas Indígenas (INALI), em meados do século 20 havia cerca de 8 mil famílias ayapanecas. A partir da construção da rodovia que liga as regiões de Villahermosa a Comacalco, os moradores começaram a abandonar Ayapa. A língua, então, começou a se extinguir.
"O tempo e o progresso transformaram o povoado, as pessoas foram trabalhar mais longe e começaram a se habituar a outros costumes. Por vergonha ou ignorância, ninguém ensinou a língua aos filhos que nasciam. Quando morrermos, a língua também morrerá", disse Segovia.



De acordo com dados socioeconômicos do instituto relativos aos povos da região de Tabasco, cerca de 10 mil indígenas perderam seu idioma materno desde 2000. Entre os povos mais afetados pelo problemas estão potlapigu, guazapar, mocorito, cocoa, ure, zacateca, zuaque, sabaibo y ahome.

Para evitar a extinção dos idiomas primitivos que ainda restam, o linguista Daniel Suslak, na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, pretende fazer um dicionário de ayapaneco com a ajuda dos dois falantes turrões.

Além disso, o Instituto Nacional Indígena, do México, quer organizar aulas de ayapaneco com Segovia e Velazquez. Mais uma vez, os estudiosos esperam que eles se entendam para evitar a morte do idioma.

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