Marcelo Tas em Serra Pelada - 1984
Fonte: PecasRaras
Na década de 1980, a produção independente ganha espaço na TV. Goulart
de Andrade abre caminho para a moçada do Olhar Eletrônico mostrar um
ponto de vista inovador. Aqui, sob a ótica de Ernesto Varela, o repórter
(Tas) e de Fernando Meirelles, o câmera Valdeci, conhecemos a realidade
do maior garimpo manual do mundo. Um verdadeiro formigueiro humano.
O sonho de ficar rico leva o homem, literalmente, para o buraco.
Leia a reportagem realizada em 2008 pelo site UOL
História de Serra Pelada: da primeira pepita ao fechamento do garimpo
18/07/2008 - 09h49
Breno Castro Alves.Especial para o UOL Em Curionópolis (PA)
- Núcleo de extração do ouro em Serra Pelada, em foto de 1983, época do "formigueiro humano"...
O lucro e os custos do ouro, ambos muito altos, ficavam para os sócios do barranco. Os trabalhadores recebiam diárias e uma pequena porcentagem na exploração, que com um pouco de sorte seria uma fortuna. Muita gente enricou, reinvestiu, perdeu tudo, enricou novamente. Era uma loteria, mas com chances elevadas de acerto. O título de maior garimpo do mundo não é gratuito, custou muito ouro.
Água no Tilim
Em 84, o presidente Figueiredo pagou uma indenização de US$ 69 milhões à Vale, então a estatal Companhia Vale do Rio Doce, que detinha o direito de exploração mineral da área, incorporado da Amazônia Mineração S/A em 1981. O acordo previa o fechamento do garimpo em três anos ou por mais vinte metros de profundidade, quando alcançaria a a cota 190, número que representa a altitude em relação ao nível do mar. O garimpeiro entendeu o interesse da companhia naquele depósito e a cota 190 alcançou patamar quase mítico, muitos sustentando que ali 60% ou 70% de todo o material seria ouro puro. A descida foi desenfreada e aumentou a cobrança de vidas nos barrancos que, sem estrutura, desabavam soterrando garimpeiros na própria riqueza que buscavam.
- A riqueza passada sobrevive nos dentes e no pescoço dos homens
Segurança nos homens
A nova descida prosseguiu de forma mais racional, menos íngreme em direção ao fundo e mais segura. Foi a partir de 1987, quando novamente se aproximavam da cota 190, que sabotagens e boicotes se tornaram freqüentes. Diversos motores das bombas de sucção foram inutilizados com areia e açúcar em suas engrenagens. De um dia para o outro o segundo Tilim amanhecia submerso, necessitando muito tempo de trabalho para drená-lo com as máquinas dos garimpeiros.
A passagem da água criava sulcos nas paredes da cava, aumentando muito o risco de desabamento. Em busca de segurança era preciso derrubar aquelas paredes frágeis dentro do próprio buraco que abriam, para só então recomeçar a cavar. Após muitos dias de trabalho voltavam ao ponto que estavam antes e não passava muito tempo até nova sabotagem ocorrer, exigindo repetir o trabalho. Essa estratégia quebrou financeira e moralmente o trabalhador que ainda insistia em sua busca. Em 88 se tornou inviável prosseguir e o garimpo em Serra Pelada, ao menos na cava, o buraco mais profundo, terminou. Para o garimpeiro, o mote "agua no Tilim e segurança nos homens" se tornou símbolo cínico da sabotagem que os impediu de chegar aos depósitos mais profundos de ouro.
Ainda em 1987, antes do vencimento do prazo de três anos do acordo de 1984, o congresso aprovou lei aumentando o tempo de exploração da área pelos garimpeiros. Em seguida, sucessivos decretos ampliaram este prazo até 92, quando Collor conferiu novamente à Vale o direito de lavra da região. Dez anos depois, em 2002, o Congresso aprovou lei restabelecendo a possibilidade de garimpo e em 2004 foi a vez do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) definir que a garimpagem só poderia ser feita mediante cessão da Vale.
Em março de 2007, a empresa cedeu o direito de exploração à Coomigasp, que assinou com a mineradora canadense Colossus em julho do mesmo ano. Desde então a composição do cenário é a mesma, a empresa vem cumprindo sua parte e deve apresentar relatório técnico no final de 2009, para só então recorrer o alvará de lavra da área, que permite a exploração mineral.
Em sua parte mais profunda, o lago de Serra Pelada possui 120 metros de profundidade. Acima d'água não difere muito de um lago comum, talvez exceto pela montanha recortada que se projeta morro acima. Abaixo da superfície, depositadas no solo envenenado de mercúrio, estão sobrepostas camadas de ouro, lama, sangue e ganância humana.
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