Política: Mudança de ventos
Merval Pereira, O Globo
Há dois pontos novos a se destacar nesta pesquisa Ibope divulgada
ontem. O mais relevante para a disputa presidencial é que pela primeira
vez a soma de “nulos e brancos” com “não sabe” empata com as intenções
de votos de Dilma ou fica ligeiramente abaixo, a depender do cenário. A
presidente continua líder e vencendo no primeiro turno.
Outro
destaque da pesquisa é que não apenas a presidente Dilma está caindo na
preferência dos eleitores — de 40% para 37% —, mas também o
ex-presidente Lula, quando apresentado como opção a ela, cai para 42%,
quando já teve até 55% dos votos. A má notícia para Dilma é compensada
por essa má notícia para Lula.
Embora se mantenha como franco
favorito quando surge como candidato, Lula já está praticamente empatado
tecnicamente com a presidente Dilma, o que pode indicar que o que está
decaindo no gosto popular é a maneira petista de governar.
Certamente
terá contribuído para o desgaste do PT o acúmulo de notícias ruins dos
últimos dias, como a crise na Petrobras e o caso da ligação do deputado
André Vargas com um doleiro preso. O mensalão continua sendo um processo
desgastante para o partido, e as denúncias de novas corrupções só
reforçam essa faceta, doze anos depois de o PT chegar ao poder.
Mas
a insatisfação com a situação econômica também está refletida na
pesquisa. A desaprovação ao governo já é maior que a aprovação (48% a
47%), um indicador clássico de tendência de queda de votação. A
avaliação negativa subiu de 27% para 30%, aproximando-se do nível de
julho de 2013, durante as manifestações populares, quando o índice foi
de 31%.
Há ainda um dado preocupante a mais: já são maioria (51%)
os que não confiam na presidente Dilma. As maiores quedas de Dilma
ocorreram entre eleitores jovens (8 pontos entre quem tem de 25 a 34
anos), nas cidades médias (11 pontos nos municípios entre 20 mil e 100
mil habitantes), na Região Sul (6 pontos).
Não é possível
tecnicamente comparar pesquisas de institutos diferentes, mas a
tendência de queda da popularidade da presidente Dilma, que se reflete
em perda de votação, está registrada em todas as pesquisas divulgadas
recentemente.
A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 10 e 14 de
abril, e pesquisas anteriores de institutos como o Datafolha já
mostravam sua queda para o mesmo patamar. A divulgação quase
concomitante das pesquisas Ibope e Vox Populi dá a sensação de que
refletem o mesmo momento, mas elas têm vários dias de diferença.
O
Instituto Vox Populi, que faz pesquisas para o PT e para a revista
“Carta Capital”, colocou Dilma na casa dos 40%, dentro da margem de
erro, embora tenha divulgado seu levantamento só onze dias após sua
realização.
A pesquisa do Ibope tem o mérito de dar tranquilidade
aos candidatos principais, embora todos tenham com o que se preocupar. A
presidente Dilma continua na frente e vencendo no primeiro turno, e o
fantasma do “volta Lula” vai se extinguindo à medida que também o
ex-presidente cai na preferência do eleitor. Mais do que ninguém, Lula
deve estar atento a essa tendência. Mas a diferença de Dilma para os
adversários está diminuindo a cada pesquisa, o que indica a
possibilidade forte de haver um segundo turno.
Quando Marina Silva
é colocada em lugar de Eduardo Campos na pesquisa, a alteração, embora
grande — de 6% para 10% —, não chega a afetar o resultado final, não
justificando, portanto, uma mudança brusca de cabeça de chapa. O
candidato mais estável é o do PSDB, senador Aécio Neves, que se mantém
com 14% quando a pesquisa inclui todos os nanicos, e fica com 16% quando
apenas os três principais candidatos aparecem na lista. A essa altura
não há ninguém dentro do partido que possa lhe fazer frente.
A
tendência de queda dos candidatos do PT, e o crescimento dos que não se
sentem representados pelos seus concorrentes na disputa, mostram que os
adversários de Dilma terão que convencer os eleitores de que são opções
válidas para esse desejo de reformulação geral que mais uma vez aparece
na pesquisa. Nada menos que 62% dos eleitores querem mudanças com outro
presidente no lugar de Dilma, e somente entre 24% e 29%, dependendo da
lista apresentada, escolheu seu candidato entre os adversários de Dilma.
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