O assassinato mais antigo da humanidade
Fonte: hypescience.com
Publicado em 28.05.2015
Uma ferida em um crânio de 430.000 anos de idade pode ser a evidência brutal do primeiro caso de assassinato no registro fóssil hominídeo.
Golpes no crânio
A descoberta aconteceu durante a análise dos restos mortais de 28
indivíduos em um sítio arqueológico espanhol. A caverna Sima de los
Huesos tem intrigado cientistas por muitos anos, pois ninguém realmente
sabe como os restos desses indivíduos, que pertencem a um clã
Neandertal, chegaram lá. Eles datam do Pleistoceno Médio.
Pesquisadores da Universidade Complutense de Madrid (Espanha)
decidiram investigar o mistério, e foram “surpreendidos” com os
resultados.
Nohemi Sala e sua equipe encontraram um crânio quase completo com
dois ferimentos penetrantes acima do olho esquerdo. Usando análise
forense moderna, interpretaram os resultados como evidência de trauma
contundente, que ocorreu na época da morte do indivíduo.
“O fato de ambas as feridas serem muito semelhantes em tamanho e
forma sugere que foram causadas pelo mesmo objeto. Como qualquer uma
delas provavelmente teria sido letal, penetrando o cérebro, a presença
de múltiplos ferimentos implica a intenção de matar”, explica Sala.
A cena do crime
A origem do acúmulo dos corpos em Sima de los Huesos tem sido muito
debatida, com pesquisadores propondo quatro hipóteses diferentes:
atividade carnívora, transporte por agentes geológicos, quedas
acidentais e acumulação intencional de organismos por hominídeos.
Estudos recentes tafonômicos descartaram a possibilidade de atividade
carnívora e de processos geológicos. O estudo mais recente analisou a
probabilidade dos outros dois cenários.
O único acesso à caverna é por uma chaminé vertical profunda, e não
há maneira de sair uma vez que você está no fundo do poço. O estudo
sugere que o indivíduo “assassinado” já estava morto antes da chegada ao
local e a única maneira possível de ter ido parar lá é se o seu cadáver
foi jogado para baixo por outros hominídeos.
Sala e sua equipe não acreditam que sua morte tenha sido uma queda
acidental, já que o indivíduo possuía feridas letais no crânio causadas
por dois golpes de um mesmo objeto. Assim, esse cenário é “altamente
improvável”.
Cemitério precoce?
Essas evidências fizeram a equipe de Sala crer que a Sima de los
Huesos era um antigo sítio de “sepultamento”. “O local representa o
comportamento funerário mais antigo no registro fóssil hominídeo, e o
caso mais antigo de um assassinato violento”, diz Sala.
Mas nem todo mundo concorda com essa conclusão. O Dr. Christoph
Zollikofer, do Instituto Antropológico da Universidade de Zurique
(Suíça), continua cauteloso com os resultados. “A lógica da inferência
forense tem várias lacunas e é guiada pelo resultado esperado e não por
padrões observados”, critica.
Os cientistas continuarão investigando algumas questões ainda em
aberto sobre Sima de los Huesos, comparando o sítio com outros contextos
do Pleistoceno. [IFLS]
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